quarta-feira, 9 de maio de 2018

Um domingo de 50 dias


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS.

“A ressurreição de Jesus é tão fundamental para a nossa vida que, desde os primeiros séculos, os cristãos celebram este tempo como um só domingo, uma única festa de Páscoa”, escreve o liturgista italiano Silvano Sirboni.
Evento de tal magnitude passa a figurar como divisor de águas entre um antes e um depois, ponto de chegada e ponto de partida. Em relação ao passado, a Páscoa celebra à grande passagem da escravidão para a liberdade. Experiência fundante para o Povo de Israel, a libertação do Egito será uma referência para todo o Antigo Testamento. O êxodo através do deserto terá como horizonte de esperança a Terra Prometida “onde corre leite e mel”.
Em relação ao futuro e ao desenvolvimento do cristianismo, a Páscoa celebra a ressurreição de Cristo. Também neste caso, o evento representa uma passagem das trevas para a luz, da morte para a vida. Vitória sobre o pecado e sobre as forças do mal. Igualmente aqui estamos diante de uma experiência fundante que as mulheres e os apóstolos, depois seus sucessores, se encarregarão de proclamar a todos os povos e nações.
Neste tempo de Páscoa – da Vigília pascal ao domingo de Pentecostes – somos convidados a celebrar a vitória sobre a escravidão, o pecado e a morte. Em relação ao horizonte da história, porém, somos convidados a superar toda espécie de condição que escraviza e avilta a dignidade humana. A visão do “túmulo vazio”, ao lado do encontro com o Ressuscitado, estimula os apóstolos e as primeiras comunidades cristãs ao anúncio do Evangelho como Boa Nova.
Deixar o túmulo! “Sai para fora”, disse Jesus a Lázaro! Existem os túmulos pessoais e familiares do medo e da angústia, da dúvida e da inquietude, do desamor e das discórdias, da inveja, do ciúme e do ódio. E, entrelaçados a estes, existem os túmulos sociais das assimetrias e desigualdades socioeconômicas, da violência e das injustiças, do escândalo entre acumulação da riqueza e exclusão social, da pobreza, da miséria e da fome.
Combater o pecado, a escravidão e a morte – eis o desafio a que nos impele o sepulcro vazio após a ressurreição de Jesus. Evitar o isolamento em egoísmos de ordem pessoal ou em situações de interesse particular. Celebrar as potencialidades da vida em todas as suas formas. Páscoa é sinônimo de vida nova. Renovada em seus fundamentos e em seu horizonte, iluminada pela luz que emana do mistério da morte e ressurreição do Senhor. Abandonar nossos pequenos túmulos e avançar para a conquista e a defesa dos direitos humanos, da justiça e da paz.
Jornal "O São Paulo", edição 3194, 12 a 17 de abril de 2018.

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