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Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Rubens Ricupero foi ministro da Fazenda (governo Itamar Franco) e Secretário Geral da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) em Genebra. Hoje é Diretor da Faculdade de Economia da FAAP, São Paulo. É conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Qual a melhor mensagem que a assembleia dos bispos deveria
transmitir ao povo brasileiro neste momento de crise e desalento? Convidado por
D. Raymundo Damasceno para apresentar análise da conjuntura na abertura da
assembleia da CNBB em Aparecida, encontrei a inspiração que buscava ao ler a
recente bula O Rosto da Misericórdia sobre o jubileu anunciado
pelo papa Francisco. A bula cita o discurso de encerramento do Concílio
Vaticano II no qual Paulo VIº dizia que “em vez de diagnósticos desalentadores,
se dessem ao mundo remédios cheios de esperança”.
Com essa intenção, sugeri que precisamos de um “mínimo
denominador comum”, um programa realista e exequível neste momento perigoso da
vida nacional. Independentemente da preferência política de cada um, o
importante seria adotar metas que todos possam aceitar. Elas se resumiriam em
evitar retrocessos que coloquem em risco as conquistas políticas, econômicas e
sociais que o Brasil acumulou em 30 anos de regime constitucional, desde que os
militares deixaram o poder.
Em alguns setores, o retrocesso já bate às portas. Perdemos
o crescimento, a inflação ameaça escapar ao controle, a corrupção alcançou
níveis destrutivos na Petrobrás. Os dois aspectos que melhor resistiam, o
emprego e a renda, começam a se deteriorar. Se isso não for rapidamente
revertido, se a economia não voltar a crescer a taxas entre 3% e 4,5% ao ano,
será impossível continuar a avançar na luta contra a pobreza e a desigualdade.
Na pior hipótese, de estagnação e inflação alta prolongadas,
mesmo as conquistas até aqui se mostrarão insustentáveis. Se isso acontecer, o
fracasso no econômico e no social acabará por contagiar a democracia política.
Devido à premência e gravidade da crise, o enfoque tem de
ser no curto prazo, no aqui e agora. Reformas, entre elas a política e a
eleitoral, são importantes no médio e longo prazo. Não vão aliviar neste
instante a perda do crescimento, a inflação, o desemprego, os impactos da
operação Lava Jato.
Não somente os bispos, mas os cristãos em geral não podem
perder de vista dois critérios evangélicos para julgar as situações concretas
da vida política. A primeira é que a Igreja, assim como a sociedade e cada um
de nós, será julgada pela maneira como tiver tratado seus membros mais frágeis
e vulneráveis. Não preciso apontar as incontáveis vezes em que Jesus afirma esse
ponto no Evangelho.
O segundo critério é que, ainda divergindo entre nós sobre a
posição a adotar em relação ao governo ou a certos partidos e ideologias, somos
obrigados, conforme nos lembrou o papa Francisco no discurso no Teatro
Municipal a manter a atitude de “diálogo, diálogo, diálogo”, nunca de recurso
ao confronto e à violência. Francisco insistiu na disponibilidade à cultura do
encontro, com atitude de humildade social, de disposição de escutar e aprender
com os outros. E concluiu: “Ou aceitamos o diálogo e cultura do encontro, ou
perdemos todos”.
Esse não é um receituário para voltar a crescer e a melhorar
a vida de todos, mas apenas o caminho para refazer um mínimo de unidade a fim
de chegar a saídas efetivas para as várias crises brasileiras.
Nada nesse caminho é incompatível e tudo nele se harmoniza
com o que esperamos da Igreja, dos bispos, de todo cristão: que saibamos
encontrar como o papa Francisco a linguagem que abra o coração das pessoas à
conversão de vida e à mensagem do Evangelho.
Jornal “O São Paulo”, edição 3051, de 13 a 19 de maio de
2015.
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