segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Cristãos no Oriente Médio, a esperança em nossas mãos

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Padre Evaristo Debiasi é Assistente Eclesiástico da Ajuda à Igreja que Sofre no Brasil.

O que aconteceu no dia 6 de agosto de 2014? Talvez o leitor tenha dificuldade de se lembrar. Neste dia, cerca de cem mil cristãos fugiram do norte do Iraque, da planície de Nínive. De pertences apenas podiam levar as roupas do corpo. O motivo da fuga? Muito simples: eram cristãos e o grupo terrorista autodenominado Estado Islâmico os queriam mortos.
Fisicamente os brasileiros estão longe deles, longe demais para oferecer abrigo, comida ou conforto, mas não tão longe para fazer aquilo que é próprio do cristianismo, rezar.
A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre promove no dia 6 de agosto o Dia Internacional de Oração pelos Cristãos no Oriente Médio. Aqui no Brasil, as mais de 10 mil paróquias foram convidadas a participarem deste dia e, na Catedral da Sé, o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer celebrará a Missa, com uma introdução a este tema tão delicado, que iniciará às 16h30.
A Ajuda à Igreja que Sofre, embora seja uma obra que auxilia projetos pastorais com ajuda material, tem a oração como um de seus pilares principais e, após meses ajudando constantemente o Oriente Médio com a construção de escolas, casas temporárias para mais de mil refugiados e até mesmo brinquedos para as crianças no Natal passado, entende que a oração ainda é o instrumento mais poderoso.
Os terroristas têm usado imagens para gerar pânico no mundo todo, espalhando vídeos difíceis de serem aceitos pelo teor da barbárie e, no meio de tanta violência gratuita nesses vídeos, vemos também os heróis da fé que rezam serenamente enquanto são assassinados, nos lembrando o testemunho dos primeiros mártires.
Essas imagens que causam horror também lembram que Cristo ao ser crucificado tomou a cruz, o maior símbolo de vergonha de sua época, e a transformou em um símbolo de vitória. Depois dele, após entender os planos de Deus, os discípulos não tinham mais medo de serem crucificados, pelo contrário, se sentiam honrados, mas só depois de verem o Cristo Ressuscitado. Dom Yousif Mirkis, arcebispo de Kirkuk, acredita que “os nossos cristãos iraquianos são melhores do que os apóstolos. Porque quando Jesus foi crucificado os apóstolos fugiram. E o seu chefe, São Pedro, negou Jesus”.
Muito provavelmente mais uma vez na história os perseguidores dos cristãos estão ajudando a registrar a história dos próximos santos. Tertuliano Langa, um sacerdote da Igreja Greco-Católica da Romênia, que ficou preso por 15 anos sofrendo torturas indizíveis apenas por ser amigo dos bispos, ao falar de seu período na prisão comentou que “o diabo estava lá, mas foi derrotado, mordendo os dedos à medida que percebia a forma como se aprofundava cada vez mais o nosso amor por Jesus. Por isso, se o diabo pretendia fazer-nos sofrer, na verdade, acabou por prestar um grande serviço tanto a nós como ao plano de santificação traçado por Deus”.
Esse é o poder do cristianismo, onde seus perseguidores veem trevas, os cristãos enxergam a luz. Por isso, o dia de oração é tão importante, para que os irmãos do Oriente Médio saibam que eles já são vitoriosos.
No próximo dia 6 de agosto então, como diz uma das frases lema da campanha, “a esperança está em suas mãos”, não tanto no bem material que suas mãos podem fazer, mas sobretudo quando uma mão se une a outra e pede ao Pai que está nos céus, a paz para estes irmãos na fé acontecerá. Nenhuma força é mais transformadora do que a oração.
Jornal "O São Paulo", edição 3062, de 29 de julho a 04 de agosto de 2015.

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