quarta-feira, 9 de maio de 2018

Gaudete et Exsultate - Capítulo 3: à luz do mestre


Contracorrente: As bem-aventuranças
Introdução
Para vivermos a santidade aqui e agora, numa experiência cristã autêntica, é preciso ouvir as palavras de Jesus e assimilar seu modo de transmitir o mistério da intimidade com Deus. Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo, ao proclamar as bem-aventuranças, que são como que o bilhete de identidade do cristão (GE, Nº 63).
Usa a palavra «bem-aventurado» ou «feliz», que aqui é sinônimo de «santo», porque expressa a experiência de quem é fiel a Deus acolhe sua Palavra e se doa a Ele e ao próximo, alcançando a verdadeira felicidade (Nº 64).              
Francisco Catão
Percorrendo o texto
As bem-aventuranças não são, absolutamente, um compromisso leve ou superficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito Santo, que animou a vida de Jesus, animar também a nossa. Nas bem-aventuranças Jesus manifesta a fonte de sua alegria, o Amor, e nos convida a compartilhá-la (Nº 65). Escutemos Jesus com todo o amor que merece (Nº 66).
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«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu»
O Evangelho de Mateus convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde colocamos a segurança da nossa vida (Nº 67). A pobreza de espírito está intimamente ligada à «santa indiferença» (Santo Inácio de Loyola): “indiferentes face a todas as coisas criadas, de tal modo que, por nós mesmos, não queiramos mais a saúde do que a doença, mais a riqueza do que a pobreza” (Nº 69).
Lucas não fala duma pobreza «em espírito», mas simplesmente de ser «pobre», convidando-nos assim a uma vida também austera e essencial (Nº 70).
Ser pobre no coração: isto é santidade
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«Felizes os mansos, porque possuirão a terra»
É uma frase forte, neste mundo, um lugar onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, seus costumes, sua cor e até sua forma de falar ou de vestir-se. Reino do orgulho e da vaidade, onde cada um se julga no direito de se impor aos outros (Nº 71). A mansidão é outra expressão da pobreza interior, de quem deposita a sua confiança apenas em Deus (Nº 74).
Reagir com humilde mansidão: isto é santidade.
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«Felizes os que choram, porque serão consolados»
Só a pessoa que vê as coisas como realmente estão, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz (Nº 76).
Saber chorar com os outros: isto é santidade.
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«Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados»
«Fome e sede» são experiências intensas, correspondem a necessidades primárias e têm a ver com o instinto de sobrevivência. Jesus diz que serão saciadas as pessoas que aspiram pela justiça e a buscam com um forte desejo, porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega e nós podemos colaborar para o tornar possível (Nº 77). Esta justiça começa por se tornar realidade na vida de cada um, sendo justo nas próprias decisões. Depois manifesta-se na busca da justiça para os pobres e vulneráveis (Nº 79).
Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade.
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«Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»
Dar e perdoar é tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá e perdoa sem limites (Nº 81). Jesus não diz «felizes os que planejam vingança», mas aqueles que perdoam e o fazem «setenta vezes sete» (Nº 82).
Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade.
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«Felizes os puros de coração, porque verão a Deus»
Puro de coração é quem tem um coração simples, sabe amar e não deixa entrar na sua vida algo que atente contra esse amor, o enfraqueça ou coloque em risco (Nº 83). “Com cuidado guarda teu coração , pois dele procede a vida. O Pai, que «vê no oculto», reconhece o que não é sincero e de igual modo também o Filho sabe o que há em cada ser humano (Nº 84)
É verdade que não há amor sem obras, mas esta bem-aventurança lembra-nos que o Senhor espera uma dedicação ao irmão que brote do coração, pois se não tiver amor, as obras de nada valem (Nº 85).
Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade.
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«Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus»
Os pacíficos são fonte de paz, constroem paz e amizade social. Àqueles que cuidam de semear a paz por todo o lado, Jesus faz-lhes uma promessa maravilhosa: «serão chamados filhos de Deus». (Nº 88). Paz evangélica não exclui, antes, integra mesmo as pessoas diferentes, fustigados pela vida ou que cultivam outros interesses (Nº 89).
Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade.
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«Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu»
O próprio Jesus sublinha que este caminho vai contracorrente, transformando-nos em pessoas que questionam a sociedade com a sua vida, e incomodam (Nº 90). Nem tudo é favorável a quem vive o Evangelho As ambições de poder e os interesses mundanos jogam contra nós (Nº 91). A cruz, as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, são fontes de e santificação (Nº 92).
Refiro-me, porém, às perseguições inevitáveis, não às provocadas pelo nosso modo errado de tratar os outros. Também hoje as sofremos quer de forma cruenta, como tantos mártires contemporâneos, quer de maneira mais subtil, através de calúnias e falsidades (Nº 94).
Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade.

Jornal "O São Paulo", edição 3197, 3 a 8 de maio de 2018.

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