quarta-feira, 9 de maio de 2018

Gaudete et Exsultate - Capítulo 1: O chamado à santidade


Introdução
No centro da Constituição sobre a natureza da Igreja, a famosa Lumen gentium, o Concílio Vaticano II, há meio século, colocou um importante capítulo sobre “a vocação universal à santidade”: todos os homens e mulheres, criados a imagem e semelhança de Deus, três vezes Santo, somos chamados a participar de sua santidade.
Empenhado em atualizar a Igreja de acordo com o Concílio, o papa Francisco, em sua mais recente Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, aborda o tema do chamado universal a sermos santos, como homens do nosso tempo, fundamento de toda autêntica atualização da Igreja.
Confessamos, como cristãos católicos que Jesus é o salvador de todos os homens e mulheres, qualquer que seja o tempo, a cultura ou a religião em que vivam. No mais profundo de nosso coração há um anseio de paz, de felicidade de amor que dá sentido à nossa vida. A leitura e meditação desse texto pessoal e direto do papa Francisco, mostra-nos o caminho de Jesus, que nos leva todos à plena realização de nós mesmos, atendendo ao chamado Espírito de Jesus, a ser ouvido no mais íntimo de nós mesmos.

Francisco Catão

ALEGRAI-VOS E EXULTAI (Mt 5,12), O Senhor nos quer santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa [Nº 1]
O meu objetivo é humilde: fazer ressoar o chamado à santidade, encarnada no contexto atual, pois o Senhor escolheu cada um de nós «para ser santo e irrepreensível na sua presença, no amor» (cf. Ef 1,4) [Nº 2]
O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte [...] Os santos, que já chegaram à presença de Deus, mantêm conosco laços de amor e comunhão [...], pois «aprouve a Deus salvar-nos e santificar-nos, não individualmente, mas constituindo-os em povo» [Nº 4-6]
No caminhar do dia a dia, vejo a santidade da Igreja nesta terra, santidade «ao pé da porta», nossa e dos que vivem junto de nós reflexo da presença de Deus, espécie de «classe média da santidade» [Nº 7],
Mesmo fora da Igreja Católica e em áreas muito diferentes, o Espírito suscita «sinais da sua presença» [Nº 9]
«Cada um por seu caminho», diz o Concílio. [Nº 11]
Isto deveria nos entusiasmar e animar cada um de nós a dar o melhor de si mesmo para crescer rumo àquele projeto, único e irrepetível, que Deus nos quis, desde toda a eternidade. [Nº 13]
Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, pois tens a força do Espírito Santo. [Nº 15]
Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo com pequenos gestos [...] à medida que vamos encontrando uma forma mais perfeita de viver o que já fazemos [...]  Sob o impulso da graça divina, com muitos gestos aparentemente insignificantes vamos construindo a figura de santidade que Deus quis para nós. [Nº 16-18]
Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade. Cada santo é uma missão, um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho [...] No fundo, a santidade é viver em união com Cristo os mistérios da sua vida [...] O desígnio do Pai é Cristo, e nós n’Ele. Em última análise, é Cristo que ama em nós, porque a santidade «nada mais é do que a caridade plenamente vivida». Cada santo é uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo. [Nº 19-21]
Isto é um vigoroso apelo para todos nós. Tu precisas conceber a totalidade da tua vida como uma missão. Pede ao Espírito Santo que realize em ti o que Jesus espera de ti, em cada momento da tua vida e permite-Lhe plasmar em ti aquele mistério pessoal que possa refletir Jesus Cristo no mundo de hoje [...] Deixa-te transformar pelo Espírito para que isso seja possível, e assim a tua preciosa missão não fracassará. [Nº 23-24]
Dado que não se pode conceber Cristo sem o Reino que Ele veio trazer, tua identificação com Cristo e os seus desígnios requer o compromisso de construíres com Ele, este Reino de amor, justiça e paz para todos. [Nº 25]
Não é saudável amar o silêncio e esquivar o encontro com o outro, desejar o repouso e rejeitar a atividade, buscar a oração e menosprezar o serviço [...] Poderá porventura o Espírito Santo enviar-nos para cumprir uma missão e, ao mesmo tempo, pedir-nos que fujamos dela ou que evitemos doar-nos totalmente para preservarmos a paz interior? Obviamente não. Mas, às vezes, somos tentados a relegar para posição secundária a dedicação pastoral e o compromisso no mundo, como se fossem «distrações» no caminho da santificação e da paz interior. [Nº 26-27]
O desafio é viver de tal forma a própria doação e os esforços por ela exigidos tenham um sentido evangélico e nos identifiquem cada vez mais com Jesus Cristo. Por isso, é usual falar, por exemplo, duma espiritualidade do catequista, do clero diocesano, do trabalho, da missão, duma espiritualidade ecológica e da vida familiar. [Nº 28]
Precisamos dum espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja, sob o olhar do Senhor, expressão de amor doado. [Nº 31]
Não tenhas medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e assim serás fiel ao teu próprio ser [...] Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. [Nº 32-34]
A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. [Nº 34]

Jornal "O São Paulo", edição 3195, 18 a 24 de abril de 2018.

Nenhum comentário:

Postar um comentário