quarta-feira, 9 de maio de 2018

O saldo da CF2018 em nossa vida


Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

A proposta das Campanhas da Fraternidade é gerar uma reflexão e uma ação que aconteçam também depois da Páscoa. Contudo, é inegável que a Quaresma é o momento mais forte da Campanha. Assim, o período pascal também é um bom momento para nos perguntarmos sobre o saldo em nossa vida dessa Campanha.
A vida cristã é (ou deveria ser) um alegre caminho de contínua “correção de rota” (conversão), para ficar cada vez mais perto Daquele que pode nos preencher integralmente com seu amor. Alegre porque a correção não se resume à contrição do coração pecador, mas se alarga como experiência da vida abraçada pela Misericórdia, liberta de qualquer medo e capaz de saborear todo e encanto e fascínio da existência que nos foi dada pelo Pai.
Essa percepção da vida cristã, tão característica da Quaresma e da Páscoa, tem muito a ver com a Campanha da Fraternidade desse ano, cujo tema é “Fraternidade e superação da violência”. A pobreza material, o descuido e as injustiças da sociedade podem explicar muitos delitos e contravenções que ocorrem em nossa sociedade. Mas a violência cresce particularmente lá onde esses problemas levam ao medo e ao desamor.
A pessoa com medo se retrai assustada ou ataca com violência procurando se defender. Aquele que não recebe amor não encontra nem recursos nem motivos para construir a paz. Por isso, o destemor cristão, que nasce da confiança e da esperança dos que se descobriram amados com um Amor tão grande que supera a todas as adversidades, é o melhor caminho para se iniciar a construção da paz em uma sociedade violenta.
Infelizmente, nesse período em que a Igreja nos chamava à superação da violência, o povo brasileiro parece ter visto um aumento dessa violência – ou, pelo menos, ela se tornou ainda mais evidente e chocante a nossos olhos. Não podemos minimizar as causas estruturais e conjunturais desse processo. A indignação com os escândalos políticos, a falta de recursos e de assistência aos mais pobres, a perda de perspectivas de futuro devido à crise econômica, a impunidade dos que cometem grandes crimes e o infortúnio dos que cometem pequenos delitos, o confronto político mais acirrado devido à proximidade das eleições. Tudo isso colabora para o aumento da violência.
Mas, justamente quando as esperanças humanas parecem mais ilusórias é que a verdadeira esperança, aquela que vem com a descoberta do amor de Deus, se torna mais importante e mais decisiva para mudar os caminhos do mundo.
Qual é o saldo dessa Campanha da Fraternidade em nossa vida? Movidos não pela militância ideológica ou pela ilusão ingênua, mas pela alegria e liberdade dos que se reconhecem amados por Deus, nos tornamos mais capazes de construir a paz, de levar o diálogo, de confortar os que sofrem e interpelar os poderosos?
Esse é um tempo exigente para nosso testemunho cristão, um tempo de graça para descobrirmos a força do amor de Deus em nossa vida e na transformação do mundo.
Jornal "O São Paulo", edição 3192, 27 de março a 3 de abril de 2018.

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