Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Rafael Mahfoud Marcoccia é professor do Centro Universitário da FEI, fez Doutorado sobre Doutrina Social da Igreja e é colaborador do site católico Terre d'America.
Em outubro
estaremos diante de mais uma eleição para prefeito e vereador. Desejamos
compreender os critérios oferecidos pela Igreja Católica para escolher os
candidatos e viver o momento das eleições de modo positivo e construtivo.
Em uma
sociedade, as pessoas se organizam em grupos e movimentos para responder às
suas exigências e necessidades mais profundas. São inúmeros exemplos, tais
como: centros de acolhida para pessoas em situações críticas, creches, centros
de formação profissional, escolas, hospitais filantrópicos, cooperativas de
microcrédito, cooperativas de trabalho, atividades de assistência a idosos,
entre outros. São presenças capilares no tecido da nossa sociedade.
Essa riqueza
não depende exclusivamente da ação de quem “faz política”, mas das realidades
sociais que vivem uma estima sincera para com o outro, em qualquer situação que
este se encontre, que o torna mais livre e responsável diante das próprias
circunstâncias da vida. São experiências de solidariedade e gratuidade. Isso é
construção política!
Partindo da
experiência humana, a Doutrina Social da Igreja nos convida a participar da
vida política de nosso município em torno de alguns princípios:
1) Princípio
da Dignidade Humana: significa aceitar que no centro do sistema político está a
pessoa com os seus direitos e seus deveres. O governo deve garantir a liberdade
de pensamento e consciência, de educação e de associação, e reconhecer o valor
da pessoa da concepção até o último instante da vida.
2) Princípio
de Solidariedade: defende que não se dê como caridade o que já é devido a
título de justiça; que se eliminem as causas estruturais dos males, não só os
efeitos; e que a ajuda seja encaminhada de tal modo que, os que a recebem, aos
poucos, se libertem da dependência e se tornem autossuficientes (cf. Concílio
Vaticano II, n. 8).
3) Princípio
de Subsidiariedade: sugere que tudo aquilo que pode ser realizado pela
sociedade deve ser incentivado e incrementado pelo poder público, deixando para
o governo somente aquilo que a sociedade não é capaz de resolver, e sua fiscalização.
Concretamente
podemos exemplificar a aplicação desses princípios:
- na
educação: o poder público deve incentivar e apoiar
integralmente, inclusive no campo financeiro, todas as propostas educativas,
como creches, escolas, centros de formação e universidades criadas pelas
próprias comunidades ou por organizações religiosas e leigas, que sejam eficientes
e verdadeiramente públicas.
- na saúde: cabe à administração pública valorizar obras nascidas da sociedade, como a Santa Casa
de Misericórdia, aumentar as verbas repassadas a essas instituições, além
de valorizar o serviço prestado pelos ambulatórios médicos e odontológicos que oferecem
serviços gratuitos às populações mais pobres.
- na habitação: o governo deve favorecer associações que realizam
assentamentos legais e regularizados, e fazer convênios de assessoria técnica e
econômica, ou seja, favorecer as inúmeras experiências de mutirões existentes.
Em suma, a
política precisa de governantes éticos e que respeitem a liberdade e a
criatividade das pessoas, valorizando as iniciativas sociais que delas nascem e
respondem às necessidades cotidianas. A política não precisa de pessoas que se
julgam no direito de decidir o que é bom para todos. Que cada pessoa seja
protagonista de sua história e que possa estar sempre a serviço do bem comum.
Jornal "O São
Paulo", edição 3121, 28 de setembro a 4 de outubro de 2016.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito oportuna essa reflexão, especialmente quando se discutem - com paixões e vieses que muitas vezes comprometem a reflexão - o papel do Estado na sociedade contemporânea. Creio que esses tópicos, com os oportunos exemplos apresentados, mereçam uma reflexão constante, e assim "repolitizar" a política naquilo que ela realmente é.
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