sexta-feira, 20 de março de 2015

As origens e a crise atual da Universidade

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo, 
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

Nas últimas semanas, reportagens sobre festas que acontecem dentro de grandes universidades paulistas, onde até estupros ocorreram, chocaram a opinião pública.
O problema não é novo: violência e até mortes já foram amplamente noticiadas em recepções a calouros, o consumo de álcool e drogas nos ambientes universitários também é bem conhecido – sendo até alvo de debates sobre a liberação ou não da maconha.
Choca, contudo, o fato de que num local onde teoricamente estão os jovens mais promissores e bem preparados, aqueles que mais receberam e dos quais portanto mais se espera, aconteçam manifestações de verdadeira barbárie.
Mesmo os mais liberais percebem que aí a autonomia individual e a sexualidade ultrapassaram os limites e impedem o amadurecimento de uma personalidade livre, capaz de realizar-se pessoalmente e contribuir para o bem comum.
Evidentemente existe um problema institucional. As universidades não podem, em nome da autonomia da comunidade, abdicar de sua responsabilidade educacional perante os jovens. Além disso, o problema ultrapassa a questão educacional e adentra na esfera policial e da segurança pública.
Mas, para o conjunto da sociedade, o problema permanece se a festa e seus abusos não acontecem no campus, e sim nas ruas próximas, em baladas ou mesmo nas casas dos jovens.
Esta é a etapa derradeira da crise da família atual – incapaz em grande parte dos casos de acompanhar, com amor e sabedoria, o jovem que inicia a sua vida adulta e começa a se tornar independente. Mas também é o começo da crise de uma nova geração de famílias – pois estes jovens terão mais dificuldade que seus pais para entender o amor e a responsabilidade de uma vida a dois.
Por isso, a violência que acontece nestas festas universitárias tem tudo a ver com as reflexões do Sínodo das Famílias.
O problema não reside na curiosidade natural dos jovens, tentados a testar a validade da norma e os prazeres ocultos no ilícito. Nem na falta de rigor das famílias e das escolas, pois o rigor atiça a curiosidade e as instituições não têm força para controlar os jovens numa sociedade complexa.
A tragédia dos jovens está em encontrarem um mundo adulto onde a vida parece não ter outro sentido que não o prazer, o consumo e a ascensão individual – novos ídolos aos quais deverão imolar sua juventude, seu desejo de vida plena e até sua felicidade.
O prazer da festa deixa de ser celebração da vida, para ser uma fuga, um poço sem fundo, onde cada prazer se revela frustrante e exige mais intensidade e emoção, até chegar à violência.
Nosso primeiro desafio é mostrar aos jovens outro modo de viver. Demonstrar, sem moralismo ou rigidez doutrinal, com nosso testemunho, que amor, responsabilidade, construção, felicidade e prazer não são opostos. Pelo contrário, a felicidade e o prazer mais plenos estão ali onde existe amor, responsabilidade e construção.
Nossos jovens precisam não só do testemunho da coerência do Evangelho, mas (talvez até mais) do testemunho da alegria do Evangelho.
Depois, valorizar e fortalecer a vida de comunidade, entre nós e entre nossos jovens. Para os jovens, uma comunidade firme e sadia é a manifestação mais imediata e segura do amor de Deus. No seio de uma comunidade, o jovem poderá errar, mas sempre terá mais chance de reencontrar o caminho.
A Igreja já considerou que a família era seu esteio. Agora está na hora de percebermos que a Igreja é o esteio da família.

Jornal “O São Paulo”, edição 3029, de 26 de novembro a 2 de dezembro de 2014.

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