segunda-feira, 18 de abril de 2016

A necessidade de uma evangelização profunda que chegue à conversão dos costumes

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte
Ana Lydia Sawaya é professora da UNIFESP, fez doutorado em Nutrição na Universidade de Cambridge. Foi pesquisadora visitante do MIT e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

Muito se tem falado que o combate à corrupção no Brasil depende da educação. Mas que educação? Será que basta aumentar a escolaridade? Bom, os corruptos que estamos vendo por aí tem inteligência, pois conseguiram galgar muitos patamares sociais, e muitos também têm alta escolaridade. Isso não quer dizer que a escolaridade média do povo brasileiro não esteja muito aquém do aceitável para um país que deseja se desenvolver economicamente; mas o aumento da escolaridade não é suficiente para levar um povo a desejar não trapacear quando tem oportunidade, roubar mesmo em pequenas coisas que parecem ter pouca valia, deixar de ser egoísta e oportunista e só pensar no interesse próprio.
O caminho para amar o bem comum é bem outro. O se colocar a serviço dos outros com alegria e generosidade, trabalhar de forma correta e eficiente, e o amor pelo bom fruto do próprio trabalho são atitudes que nascem de outra fonte: uma religiosidade profunda. Mas o que é essa religiosidade profunda que, São Bento ao fundar há 1500 anos atrás “uma escola de serviço ao Senhor”, também chama de “conversão dos costumes”?  No início de sua Regra de Vida, ele diz:
Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes? Se a essas palavras responderes ‘Sou eu’, Deus te dirá então: Se queres ter a vida verdadeira e eterna, preserva tua língua do mal e não profiram os teus lábios palavras enganadoras, desvia-te do mal e faze o bem; procura a paz e segue-a. Quando tiveres feitos essas coisas, os meus olhos porei em vós e os meus ouvidos estarão atentos às vossas preces, e antes que me invoqueis, direi: ‘Aqui estou’. (Prólogo, Regra de São Bento)
A religiosidade profunda, única capaz de levar à conversão dos costumes, nasce livremente na pessoa que encontrou o Senhor e experimenta, na relação com Ele, o caminho da felicidade. É fruto de um movimento livre para o bem porque a pessoa se sente segura num caminho onde ela já experimenta uma possibilidade real de felicidade. Faz o bem quem é feliz, diziam também os antigos filósofos.
É evidente como tantos dos nossos políticos, empresários, juízes e até cientistas e artistas não mostram um caminho de real conversão dos costumes, e estão muito longe disso. Seria superficial esperar que leis ou sistemas de governo, por mais eficientes que possam ser, sejam capazes de coibir atitudes tão distantes da busca do bem comum. Porque sempre haverá meios de burlar as regras e as leis. Da mesma forma, seria uma grande ingenuidade acreditar que basta mudar de partido ou de políticos para salvar o Brasil da corrupção. Há ainda que dizer que os que foram eleitos (e o serão), de certa forma, representam a ‘moral do povo’ sendo parte dela. L. Giussani, no livro O Eu, o poder e as obras (Editora Cidade Nova, 2001) explica que a política é a forma última da cultura. O ato político representa a expressão última da cultura e do agir de um povo.
A Igreja tem uma responsabilidade importantíssima no Brasil: dela, sobretudo, depende um trabalho de evangelização profunda, única capaz, de levar à conversão real dos costumes. Só assim o Brasil poderá vencer a corrupção sistêmica, a violência e a enorme desigualdade social. Mas, mais que tudo, dar a oportunidades a muitas pessoas de encontrarem a Cristo, único caminho para a felicidade plena e resposta adequada ao desejo mais profundo do coração.
Jornal "O São Paulo", edição 3097, 13 a 19 de abril de 2016.

2 comentários:

  1. O texto é muito verdadeiro e tomara a Deus, q as pessoas busquem o bem comum e não só os políticos!!!!
    Obrigada Ana Lydia

    ResponderExcluir
  2. O texto é muito verdadeiro e tomara a Deus, q as pessoas busquem o bem comum e não só os políticos!!!!
    Obrigada Ana Lydia

    ResponderExcluir