sexta-feira, 20 de março de 2015

Realismo econômico e políticas sociais

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Antonio Carlos Alves dos Santos é professor titular de Economia na Faculdade da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

Um dos principais desafios do segundo governo da Presidente Dilma é superar os vários equívocos na condução da política econômica do primeiro mandato, que podem por em risco inclusive as conquistas sociais do governo.
Por que é necessário mudar o rumo atual da política econômica? Isso não coloca em risco o que foi alcançado em inclusão social? Não seria o caso de esquecer o superávit primário e outras metas macroeconômicas?
A resposta passa pela analise de alguns  dados do mês de outubro: divida bruta (62% do PIB); conta corrente do balanço de pagamentos (déficit de 3,7% em relação ao PIB); inflação distante do núcleo da meta (acumulada ate outubro, 6,59%); crescimento pífio do PIB. 
Eles sinalizam que o experimento heterodoxo do primeiro mandato da Presidente Dilma, a “nova matriz macroeconômica (cambio desvalorizado, gastos públicos crescentes, juros baixos)   não apresentou o resultado prometido e deixou como legado graves desequilíbrios macroeconômicos, agravados pela situação pouco favorável da economia mundial.
Uma casa que não tenha um equilíbrio entre despesas e receitas não se sustenta. Por isso é necessário mudar até para manter os ganhos sociais já conseguidos.
O primeiro passo para evitar o agravamento do cenário econômico atual, preocupante mas não desesperador, e reverter estas expectativas desfavoráveis, foi dado com a escolha de uma equipe econômica com os requisitos necessários para uma boa gestão da política econômica.
A escolha do Joaquim Levy, pelo seu histórico profissional, causou certa surpresa e apreensão em relação a manutenção dos programas sociais. Mas não há razão para alarme: sua função, assim como de Nelson Barbosa, Ministro do Planejamento, e Alexandre Tombini presidente do Banco Central, será recuperar a credibilidade na política econômica, necessária à retomada do crescimento econômico com inclusão social.
Agora, é necessário implementar as medidas anunciadas na apresentação dos três ministros e reafirmadas pela Presidente Dilma. Estas medidas implicam em cortes de gastos, aumentos de impostos e contribuições e revisão da política adotada pelo BNDES, cujo foco será redirecionado para pequenas e medias empresas, já que as grandes têm condições de obter financiamento junto ao setor privado.  Elas são necessárias para viabilizar a meta de superávit primário (gastos menos despesas) de 1,2% do PIB em 2015 e ao redor de 2% em 2016 e 2017.
No curto prazo – primeiro semestre de 2015 – estas medidas poderão se dolorosas, podendo, ate mesmo levar ao aumento do desemprego e a inflação acima do teto da meta. Mas serão sacrifícios justificados se as expectativas negativas forem revertidas.
Uma política fiscal consistente, transparente e sem o uso de contabilidade criativa, é a pedra fundamental de uma política econômica a serviço da construção de um país socialmente mais justo. A incompatibilidade entre esta nova política econômica e a preocupação social é falsa. Trata-se, de resgatar o tripé macroeconômico (superávit primário, cambio flutuante e foco em atingir a meta de inflação de 4,5% ao ano) que foi o alicerce sobre o qual se construiu a política social do Governo do Presidente Lula.
Não é preciso reinventar a roda para traçar uma rota consistente de crescimento econômico com justiça social. É apenas necessário não confundir ideologia com política econômica. 
Os eleitores mostraram que querem justiça social, caberá à nova administração honrar o compromisso assumido com eles.

Jornal “O São Paulo”, edição 3031, de 11 a 16 de dezembro de 2014.

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