Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Dalcides Biscalquin é mestre em Comunicação, licenciado em Filosofia e bacharel em Teologia, foi gerente de marketing da TV Cultura e diretor-presidente da Editora Salesiana. Apresenta diariamente o programa "Tribuna Independente" na Rede Vida de Televisão.
Os apocalípticos
anunciam o entardecer da televisão. Segundo eles, estaríamos prestes a
mergulhar num universo tecnológico fundado em novas mídias. Por outro lado, há
os que sustentam que o universo televisivo ainda está em expansão e terá vida
longa.
De qualquer forma, a
certeza que parece indiscutível é que o imaginário humano continuará buscando
caminhos e modalidades para reencantar sua visão de mundo. E aqui encontra-se o
fascínio da era da imagem. Num mundo marcado pela opressão, pela violência,
pela insegurança econômica, pela solidão urbana, pelo abandono de valores, o
espetáculo da imagem parece ter o seu papel muito bem definido.
A ele compete assumir
o lado das massas, inclusive para garantir os bons índices de audiência. Embora
esteja a serviço de interesses díspares, a televisão brasileira encontra seu
ponto unificador ao resgatar a possibilidade do sonho, ao se fazer presente
onde a carência humana grita silenciosamente. Ela invade os espaços deixados
por uma escola que não conscientiza, por uma família que não dialoga, por uma
política que não inspira credibilidade.
Não são poucos os que
depositam a confiança de justiça nesse nosso país às investigações paralelas
protagonizadas por determinados veículos de comunicação. Não são desprezíveis
os números que mostram que a população brasileira tem acesso à informação quase
que exclusivamente pelos noticiários televisivos. O problema é que, nesse
universo, quase tudo é transformado em show. Basta ver que algumas emissoras se
especializam na exploração da violência.
Por que o interesse do
público nesse tipo de programação? Talvez por levar o telespectador, mesmo que
por um tempo curto, a deixar a escala pessoal do sofrimento e a ter um
pseudoconforto no encontro da dor coletiva ou da dor alheia. Tudo tende a se
transformar em espetáculo. As críticas à situação econômica, aos órgãos
governamentais, as denúncias de corrupção, tudo vem imerso numa pluralidade de
assuntos amenos e entremeados por comerciais encantadores. Basta ver o sucesso
das telenovelas.
Um povo que não tem
acesso aos livros encontra de alguma forma quem lhe conte histórias. Tudo muito
previsível e comum. Nada que exija muito esforço intelectual. E a busca do
final feliz parece ser sempre uma exigência categórica. Parece uma compensação
imaginária diante do descompasso do mundo real.
No entanto, não
consigo ver a televisão ou a sua pobre programação como a grande vilã social.
Culpar a televisão pela destruição das instâncias pedagógicas e educativas,
pela demolição dos valores morais, pelo aumento da violência, no meu ponto de
vista, é errar o alvo. É atacar o problema na sua exterioridade e desconhecer
as causas mais profundas. Mais do que brigar com a indústria do imaginário é
preciso brigar com a realidade.
O problema não é a
ficção, mas o cotidiano, a estrutura social, a falta de perspectivas. A
televisão não é o problema, é apenas a ponta do iceberg. Portanto, banir a
televisão ou seus programas considerados nocivos e deixar as estruturas
geradoras de atrocidades intactas é, no mínimo, ingenuidade.
Jornal "O São Paulo", edição 3059, de 08 a 14 de
julho de 2015.
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