Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Anualmente realiza-se o Campus Party Brasil, intitulado o
melhor acontecimento de tecnologia, inovação, empreendedorismo, cultura e
entretenimento digital do Brasil e América Latina. Milhares de jovens literalmente acampam ali por dias. Mas em
busca do quê? Em última instância, de suas realizações, de felicidade e beleza.
Um espaço de encontro de experiências envolvendo jovens, educação, cultura e
inovação. Durante a realização da última edição desse evento, foi interessante
perceber a atração e encantamento que causavam alguns “gurus”, jovens expoentes
empreendedores e inovadores desse circuito. Suas palestras causavam frisson, principalmente quando se reportavam
ao sentido e utilidade do que fazem, com a aprendizagem e a aplicação das
tecnologias desenvolvidas por eles mesmos. Suas falas – como “seu esforço, seu
arroz e feijão vira um código ou programa...”, “tudo o que você sabe é útil para
outra pessoa, para alguém” – levava ao delírio o público jovem. A própria relação
com o conhecimento – “não sou eu que tenho que aprender uma linguagem de
programação, mas eu preciso ensinar o meu computador a fazer alguma coisa que
vai servir para alguém” – causava um brilho nos olhos da grande maioria dos
jovens. Tais ideias ainda que postas como formulas e estratégias para inovar,
criar produtos que tenham demanda ou clientes em potencial e possibilidade de
realização material, deixavam transparecer o anseio de realização daqueles jovens,
motivados de tal maneira a se superarem continuamente, em longas madrugadas,
regadas a sanduíches e Coca-Cola.
Nessa experiência evidencia-se o anseio pelo sentido das “coisas”,
da vida, de dar sentido ao que fazemos, ainda mais quando isto vai ao
atendimento do outro. Por outro lado, mostra uma inquietação, uma esperança num
mundo melhor que parece mover uma boa parte dessa juventude inovadora e
transformadora da realidade. Nesse sentido podemos avistar a educação como um
caminho favorável para a realização da pessoa.
Nesse momento, em que é cada vez mais presente e exigido o desenvolvimento
de uma educação voltada para a inovação, os esforços para o desenvolvimento de
modelos pedagógicos ou métodos inovadores, na sua grande maioria, se baseiam na
melhor compreensão da realidade, observando-a para depois procurar a solução
dos problemas. Segundo o pensador e educador católico Luigi Giussani, “quando
eu consigo ter uma postura original, uma resposta original diante de uma
realidade que se apresenta, consigo ter uma resposta nova, original“. Por isso,
descobrir o sentido do “que estou vivendo” pode torna mais natural a inovação, como
uma postura diante da vida. Em salas de aula, esta percepção da educação, não
só colabora para a realização pessoal do estudante, mas também favorece a
produtividade e a eficiência de aprendizagem, uma vez que proporciona a calma
necessária para observar, contemplar a realidade e buscar a melhor solução para
os problemas.
As palavras do Papa Francisco num recente encontro com
educadores do mundo inteiro: “não frustrem as aspirações profundas dos jovens:
a necessidade de vida, abertura, alegria, liberdade, futuro; o desejo de
colaborar na construção de um mundo mais justo e fraterno, no desenvolvimento
para todos os povos, na tutela da natureza e dos ambientes de vida”. Também vem
reforçar e indicar como estabelecer um adequado diálogo entre a juventude, seus
anseios e a relação com a educação e inovação, tão necessárias e exigidas em
nosso tempo.
Jornal "O São Paulo", edição 3065, de 19 a 25 de
agosto de 2015.
Excelente Reflexão...
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