segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Educação, Inovação e realização pessoal

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte
Marcelo Barroso é doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela USP, coordenador do curso de Engenharia de Inovação do ISITEC/SP e  membro da comunidade Totus Mariae.

Anualmente realiza-se o Campus Party Brasil, intitulado o melhor acontecimento de tecnologia, inovação, empreendedorismo, cultura e entretenimento digital do Brasil e América Latina. Milhares de jovens literalmente acampam ali por dias. Mas em busca do quê? Em última instância, de suas realizações, de felicidade e beleza. Um espaço de encontro de experiências envolvendo jovens, educação, cultura e inovação. Durante a realização da última edição desse evento, foi interessante perceber a atração e encantamento que causavam alguns “gurus”, jovens expoentes empreendedores e inovadores desse circuito. Suas palestras causavam frisson, principalmente quando se reportavam ao sentido e utilidade do que fazem, com a aprendizagem e a aplicação das tecnologias desenvolvidas por eles mesmos. Suas falas – como “seu esforço, seu arroz e feijão vira um código ou programa...”, “tudo o que você sabe é útil para outra pessoa, para alguém” – levava ao delírio o público jovem. A própria relação com o conhecimento – “não sou eu que tenho que aprender uma linguagem de programação, mas eu preciso ensinar o meu computador a fazer alguma coisa que vai servir para alguém” – causava um brilho nos olhos da grande maioria dos jovens. Tais ideias ainda que postas como formulas e estratégias para inovar, criar produtos que tenham demanda ou clientes em potencial e possibilidade de realização material, deixavam transparecer o anseio de realização daqueles jovens, motivados de tal maneira a se superarem continuamente, em longas madrugadas, regadas a sanduíches e Coca-Cola.
Nessa experiência evidencia-se o anseio pelo sentido das “coisas”, da vida, de dar sentido ao que fazemos, ainda mais quando isto vai ao atendimento do outro. Por outro lado, mostra uma inquietação, uma esperança num mundo melhor que parece mover uma boa parte dessa juventude inovadora e transformadora da realidade. Nesse sentido podemos avistar a educação como um caminho favorável para a realização da pessoa.
Nesse momento, em que é cada vez mais presente e exigido o desenvolvimento de uma educação voltada para a inovação, os esforços para o desenvolvimento de modelos pedagógicos ou métodos inovadores, na sua grande maioria, se baseiam na melhor compreensão da realidade, observando-a para depois procurar a solução dos problemas. Segundo o pensador e educador católico Luigi Giussani, “quando eu consigo ter uma postura original, uma resposta original diante de uma realidade que se apresenta, consigo ter uma resposta nova, original“. Por isso, descobrir o sentido do “que estou vivendo” pode torna mais natural a inovação, como uma postura diante da vida. Em salas de aula, esta percepção da educação, não só colabora para a realização pessoal do estudante, mas também favorece a produtividade e a eficiência de aprendizagem, uma vez que proporciona a calma necessária para observar, contemplar a realidade e buscar a melhor solução para os problemas.
As palavras do Papa Francisco num recente encontro com educadores do mundo inteiro: “não frustrem as aspirações profundas dos jovens: a necessidade de vida, abertura, alegria, liberdade, futuro; o desejo de colaborar na construção de um mundo mais justo e fraterno, no desenvolvimento para todos os povos, na tutela da natureza e dos ambientes de vida”. Também vem reforçar e indicar como estabelecer um adequado diálogo entre a juventude, seus anseios e a relação com a educação e inovação, tão necessárias e exigidas em nosso tempo.
Jornal "O São Paulo", edição 3065, de 19 a 25 de agosto de 2015.

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