quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A desconhecida e valiosíssima importância da Igreja Católica

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte
Gilberto Haddad Jabur é professor em Direito Civil na PUC-SP, membro da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP) e presidente da Cátedra da Família, associada à Faculdade de Direito da PUC-SP.

A importância da Igreja Católica na história da humanidade é inexcedível. É pena que muitos não se interessem por ela, senão por garimpar desvios humanos daqueles que a serviram e servem, confundindo sua incorruptível origem e santidade com a natural falibilidade humana. A notícia de um sacerdote acusado de pedofilia, cuja evidente gravidade não se discute, é divulgada com destaque e, com frequência, habilmente acompanhada de outras tantas acusações à Igreja. Mas não há interesse dos mesmos comunicadores sociais, tampouco no ambiente universitário, de se veicular a comprovada informação histórica de que a Igreja resgatou a dignidade das crianças (ao banir o costumeiro infanticídio instituído entre gregos e romanos), dos idosos (ao impedir que os mais frágeis e não mais produtivos fossem descartados em abismos e montanhas) e — para citar apenas três exemplos da antiguidade — das mulheres (tomadas como instrumento de prazer).
A Igreja fez muito mais em favor da civilização ocidental do que trazer luzes à arte, à música e à arquitetura. Sua contribuição para o reconhecimento da dignidade da pessoa humana foi fundamental e aconteceu desde suas origens.
Com a instituição do catolicismo como religião oficial do império romano do ocidente, no final do séc. IV, aboliu-se o cada um por si e Deus por todos. A justiça social, o repúdio às injustiças e a responsabilidade coletiva se instalaram como amor ao próximo, documentado pelas práticas de caridade espalhadas pelo império romano após sua cristianização. Abriram-se escolas, asilos, orfanatos, hospitais, manicômios e leprosários.  Resgatou-se a dignidade da mulher, considerada na antiguidade como reprodutora ou objeto de prazer.  A moral sexual, antes perversa e sadista, foi restaurada. A traição do marido também caracterizava adultério para Igreja, ao contrário do que o mundo antigo estabelecida, apenas em prejuízo da mulher. A proibição ao divórcio passou a conferir grande proteção às mulheres.
A vida humana valia pouco antes do cristianismo chegar à Roma. O banimento de jogos brutais e mortais, a que Sêneca chamava de “neurose coletiva”, em teatros e arenas, onde se propagavam o gosto pelo sangue e pela ociosidade, também foi obra da Igreja. São Telêmaco, monge, chegou a invadir um anfiteatro romano para separar dois gladiadores e foi morto pela multidão. Teria sido a última luta entre gladiadores em uma arena romana. Tudo isso não ocorreu da noite para o dia, mas ao longo de quase dois séculos. Com o fim do paganismo, no final do séc. IV, muitos bispos chegaram a substituir os funcionários imperiais, dadas sua capacidade e virtudes reconhecidas pela população.
Nas palavras do historiador Thomas E. Woods Jr.: “A Igreja Católica configurou a civilização em que vivemos e o nosso perfil humano de muitas maneiras além das que costumamos ter presentes. Por isso, insistimos em que ela foi a construtora indispensável da civilização ocidental. Não só trabalhou para reverter aspectos moralmente repugnantes do mundo antigo – como o infanticídio e os combates de gladiadores -, mas restaurou e promoveu a civilização depois da queda de Roma.”
Que a verdadeira história da humanidade possa ser levada aos estudantes livre de juízos apriorísticos e ideias preconcebidas, mirando o autêntico conhecimento do qual tanto carece nossa valiosa e promissora juventude.
Jornal "O São Paulo", edição 3063, de 05 a 11 de agosto de 2015.

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