Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
A importância da Igreja Católica na
história da humanidade é inexcedível. É pena que muitos não se interessem por
ela, senão por garimpar desvios humanos daqueles que a serviram e servem,
confundindo sua incorruptível origem e santidade com a natural falibilidade
humana. A notícia de um sacerdote acusado de pedofilia, cuja evidente gravidade
não se discute, é divulgada com destaque e, com frequência, habilmente
acompanhada de outras tantas acusações à Igreja. Mas não há interesse dos mesmos
comunicadores sociais, tampouco no ambiente universitário, de se veicular a
comprovada informação histórica de que a Igreja resgatou a dignidade das
crianças (ao banir o costumeiro infanticídio instituído entre gregos e
romanos), dos idosos (ao impedir que os mais frágeis e não mais produtivos
fossem descartados em abismos e montanhas) e — para citar apenas três exemplos da
antiguidade — das mulheres (tomadas como instrumento de prazer).
A
Igreja fez muito mais em favor da civilização ocidental do que trazer luzes à
arte, à música e à arquitetura. Sua contribuição para o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana foi fundamental e aconteceu desde suas origens.
Com a
instituição do catolicismo como religião oficial do império romano do ocidente,
no final do séc. IV, aboliu-se o cada um por si e Deus por todos. A justiça
social, o repúdio às injustiças e a responsabilidade coletiva se instalaram
como amor ao próximo, documentado pelas práticas de caridade espalhadas pelo império
romano após sua cristianização. Abriram-se escolas, asilos, orfanatos,
hospitais, manicômios e leprosários. Resgatou-se
a dignidade da mulher, considerada na antiguidade como reprodutora ou objeto de
prazer. A moral sexual, antes perversa e
sadista, foi restaurada. A traição do marido também caracterizava adultério
para Igreja, ao contrário do que o mundo antigo estabelecida, apenas em
prejuízo da mulher. A proibição ao divórcio passou a conferir grande proteção
às mulheres.
A vida humana valia pouco antes do cristianismo chegar à
Roma. O banimento de jogos brutais e mortais, a que Sêneca chamava de “neurose
coletiva”, em teatros e arenas, onde se propagavam o gosto pelo sangue e pela
ociosidade, também foi obra da Igreja. São Telêmaco, monge, chegou a invadir um
anfiteatro romano para separar dois gladiadores e foi morto pela multidão. Teria
sido a última luta entre gladiadores em uma arena romana. Tudo isso não ocorreu
da noite para o dia, mas ao longo de quase dois séculos. Com o fim do
paganismo, no final do séc. IV, muitos bispos chegaram a substituir os
funcionários imperiais, dadas sua capacidade e virtudes reconhecidas pela
população.
Nas palavras
do historiador Thomas E. Woods Jr.: “A Igreja Católica configurou a civilização
em que vivemos e o nosso perfil humano de muitas maneiras além das que
costumamos ter presentes. Por isso, insistimos em que ela foi a construtora
indispensável da civilização ocidental. Não só trabalhou para reverter aspectos
moralmente repugnantes do mundo antigo – como o infanticídio e os combates de
gladiadores -, mas restaurou e promoveu a civilização depois da queda de Roma.”
Que a
verdadeira história da humanidade possa ser levada aos estudantes livre de
juízos apriorísticos e ideias preconcebidas, mirando o autêntico conhecimento
do qual tanto carece nossa valiosa e promissora juventude.
Jornal "O São Paulo", edição 3063, de 05 a 11 de
agosto de 2015.
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