Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Wagner Balera é professor titular de Direitos Humanos na Faculdade de Direito da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Na alocução com que encerrou, solenemente, o Ano Santo de 1975, precisamente no dia de Natal, o Beato Paulo VI lançou o tema essencial para o nosso tempo que é o da civilização do amor.
Pretendo delinear, ainda que brevemente, em que pode
consistir esse ambicioso programa, verdadeira antevisão do único futuro
possível para a humanidade.
Demarquemos, desde logo, que o fenômeno da globalização mais
acirrou a busca egoísta pelas lideranças mundiais, em determinados setores,
cujo propósito deveria ser posto a serviço do ideário da civilização do amor.
Veja-se, somente a título exemplificativo, a questão da
energia nuclear. Utilizada para finalidades médicas, essa energia permitiu e
proporcionou, e segue proporcionando, minoração do sofrimento humano. No
entanto, as lideranças egoístas só pensam nela para manterem ou ampliarem a
dominação nuclear para fins militares.
No programa da civilização do amor, o primeiro e sobranceiro
item é o relativo ao valor da vida humana. Tudo deve fazer a comunidade
internacional para prestigiar a vida, que é de ser o bem por excelência. De
nenhum modo a comunidade internacional pode associar-se a ideologias que querem
implantar a cultura de morte, fautora de genocídios e homicídios sem conta.
Basta! É necessário que a pacificação social se infiltre por toda a parte como
ideia essencial da civilização do amor e que, graças a ela, nenhuma vida se
perca.
O programa da civilização do amor organiza, impõe e sustenta
a solidariedade como elemento essencial de convivência humana.
Uma ordenação econômica que mantenha em retentiva a
solidariedade não tolera nenhuma modalidade de embargo como instrumento de
coação política ou ideológica, que acaba não atingindo os governantes, mas sempre
atinge o povo pobre.
A solidariedade exige que uma nova ordem econômica
internacional governe as relações entre povos e que a economia esteja a serviço
da distribuição dos bens deste mundo.
O programa da civilização do amor dá importância à cultura e
às culturas, não pretendendo e tampouco admitindo o pensamento único ou as
embalagens culturais pré-fabricadas pelo assim chamado Ocidente. Cumpre apreender
os valores culturais dos povos ancestrais, como os indígenas, os asiáticos e os
africanos, respeitando costumes e modos de ser nem sempre condizentes com nossa
cultura.
O programa da civilização do amor se dá conta que mesmo o
proselitismo religioso pode ter que ficar em suspenso. Como sublinha Bento XVI
“O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer,
deixando falar somente o amor. ” (Deus caritas est, ponto 31). Nesse programa, a
participação social é o fio condutor da vida das comunidades. Identificaremos as
características da civilização do amor na medida de tal participação popular; na
medida do debate e da troca de experiências entre as pessoas.
Fomentar o formato próprio que a nova modelagem da
civilização – aquela na qual o amor seja a força motora e propulsora – que
venha a tomar o lugar dessa era atual na qual a fome, a exclusão social, as
guerras e o poderio econômico do imperialismo internacional do dinheiro
(expressão de Pio XI) é nossa primeira tarefa.
A vitória da civilização do amor, como profetizou o Beato
Paulo VI significará a transfiguração da humanidade. Só nela os homens todos e todos os homens
viverão novos tempos de justiça e de paz.
Jornal "O São Paulo", edição 3058, de 01 a 07 de
julho de 2015.
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