Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ricardo Gaiotti Silva é advogado, juiz eclesiástico no Tribunal Interdiocesano de Aparecida, mestrando em Filosofia do Direito pela PUC-SP e mestrando em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade de Salamanca - Espanha.
O cenário “bélico” que estava
rodeando os noticiários do Brasil foi amenizado pelas Olimpíadas. Por outro
lado, fomos bombardeados de informações como nomes de atletas, países e
esportes desconhecidos, números e marcas que nunca tínhamos ouvido falar. Diante
de tanta coisa que nos foi passada, podemos tirar inúmeras lições para o nosso
dia a dia. De fato, há muitos bons frutos a colher, quer seja a partir da disciplina
dos campeões, dos esforços dos derrotados e até mesmo da disputa sadia com os
“inimigos”.
Lição de Fraternidade: como não se
emocionar com a abertura dos jogos, sinal de união pacífica entre os povos,
testemunho de que mesmo diante de nossas diferenças somos irmãos, filhos do
mesmo “Pai”, tendo em vista que “Deus
não faz distinção de pessoas” (At 10, 34). Sem dúvida, fica para nós a
lição de que juntos podemos construir um mundo melhor, pois “a humanidade
possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum” (Papa Francisco na Encíclica Laudato si’).
Lição de Perseverança: emocionante foi a conquista do
ginasta brasileiro Diego Hypólito, que após dois fracassos em Olimpíadas
anteriores conseguiu a tão sonhada medalha. Já com a medalha no peito,
desabafou emocionado: “Nunca deixe que digam até onde vai o seu sonho. Se nós
trabalharmos, temos a possibilidade de chegar em um resultado que sonhamos”. Diego
foi um perseverante, não desistiu apesar das quedas. Diante deste exemplo, recordo-me
uma frase de São Josemaria Escrivá: “A vida espiritual é um contínuo começar e
recomeçar”. A nós fica a lição: não desistir diante das quedas.
Lição
de Reconciliação: uma simples “selfie” entre duas ginastas coreanas – uma do
norte outra do sul, cidadãs de países “inimigos” -, nos deu a lição de que,
como disse São João Paulo II em sua mensagem para a celebração do XVI dia
Mundial da Paz, “o diálogo para a paz é possível, pois os homens afinal são
capazes de ultrapassar as divisões, os conflitos de interesses e mesmo as
oposições que parecem radicais, se acreditarem na eficácia do diálogo”.
Outra bela lição nos deu o Papa
Francisco em sua mensagem por ocasião dos Jogos Olímpicos. Exortou-nos o Santo
Padre: “diante de um mundo que está sedento de paz, tolerância e reconciliação,
faço votos de que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes
e espectadores, a combater o bom combate e a terminar juntos a corrida (cf. 2
Tm 4, 7-8), almejando alcançar como prêmio não uma medalha, mas algo muito mais
valioso: a realização de uma civilização onde reine a solidariedade, fundada no
reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana,
independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião”.
Que possamos ser atingidos pelas
“Lições” dos Jogos Olímpicos, e desta forma sermos motivados a viver de forma
“virtuosa”, empenhados na construção de uma sociedade justa, fraterna,
tolerante e pacífica. E os bons exemplos não param por aí: a partir de 7 de
setembro presenciaremos as Paraolimpíadas: certamente teremos mais e mais boas
histórias para nos inspirar na luta por um mundo melhor. Assim, que não apenas
alguns afortunados sejam “medalhistas”, mas todos tenhamos a possibilidade de
sermos vencedores.
Jornal "O São Paulo", edição 3117, 31 de agosto a
7 de setembro de 2016.
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