Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Antonio Carlos Alves dos Santos é professor titular de Economia na Faculdade da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
A escolha dos eleitores britânicos pela saída da União
Europeia é, sem duvida alguma, um duro golpe no projeto de integração do velho
continente. No entanto, não é o primeiro, e dificilmente será o último, no
longo e tortuoso caminho de superação de um passado cuja melhor síntese,
negativa, é a sangrenta batalha de Somme, na Primeira Guerra Mundial, iniciada
em 1 de julho de 1916. A memória da carnificina (cerca de 1,2 milhões de mortos
e feridos numa disputa por 300 km2) ajuda a compreender a
importância do projeto na história da Europa.
O processo de integração não é um projeto exclusivamente
econômico. Ele é, acima de tudo, um projeto político em busca de fundamentos
econômicos. Ele nasce da iniciativa de uma geração de notáveis políticos
cristãos, na qual se destacam os católicos Adenauer e De Gasperi e deve à
liderança do católico Delors a superação de vários problemas que impediam o
progresso da integração econômica.
A incorporação do conceito de subsidiariedade no Tratado de
Maastricht atesta a influência da Doutrina Social Católica na proposta de
integração europeia. Subsidiariedade é o princípio segundo o qual as instâncias
políticas mais amplas devem estar a serviço das subalternas (a união
continental a serviço dos países, a federação a serviço dos estados, o governo
a serviço sociedade organizada).
A vitória do Brexit no referendo é o desfecho de uma relação
nada amigável entre o Reino Unido e os demais parceiros da União Europeia que remonta
ao início do projeto de integração europeu. O Reino Unido sempre foi favorável à
integração econômica, mas era reticente a qualquer forma de integração
política, o que o levou a participar da criação da Associação Europeia de Livre
Comércio, uma alternativa ao projeto de Mercado Comum. Além disso, por ter uma
relação especial com os Estados Unidos, sempre manteve, segundo De Gaulle, uma
relação de hostilidade em relação o projeto de integração europeu. Motivo, aliás,
alegado por ele, para vetar a candidatura do Reino Unido ao bloco em 1961: foi
aceito somente em 1973 e foi aprovado por 67% dos votantes no referendo de
1975. A opção, em 1992, por ficar fora da Zona do Euro é a melhor expressão
desta relação de tapas e beijos entre britânicos e demais parceiros da União
Europeia.
Em que pese o fato de ser uma relação difícil, ela não
necessariamente teria que terminar no divórcio do Brexit. Erros foram cometidos
de ambos os lados: a burocracia europeia deveria ter levado mais a sério o princípio
da subsidiariedade e os políticos britânicos deveriam ter sido menos
beligerantes com a União Europeia. A insistência em imputar à tecnocracia
europeia a responsabilidade por problemas econômicos e sociais britânicos
ajudou a criar um caldo de cultura anti- União Europeia em segmentos da sociedade
britânica fortemente atingida pela crise econômica. Para eles, a livre
circulação dos trabalhadores da União Europeia – um dos pilares de todo projeto
de integração econômica – era responsável pelo aumento da criminalidade, baixa
oferta de empregos, pela longa espera por tratamentos no Sistema Nacional de
Saúde.
O desafio, agora, é conter as danosas consequências
econômicas do Brexit. Os maiores prejudicados serão justamente os que optaram
pela saída, já que a recessão no Reino Unido dificilmente poderá ser evitada. O
impacto no resto da Europa será menor, mas implicará em crescimento abaixo do
esperado e poderá ser sentido com mais força nos países mediterrâneos.
Jornal "O São Paulo", edição 3110, 13 a 19 de
julho de 2016.
Parece que a gente não quer aprender das lições da historia recente: quasse toda Europa com dois guerras mundiais em seu território com as principais cidades desbastadas pelo bombardeios, com os campos de extermínio de Auschwitz, e ainda assim duvidam que o caminho da Cultura da Vida, em troca da Cultura da Morte a integração, onde o Planeta Terra e nossa mai Pátria Grande e todos somos cidadãos planetários conforme ao sono Kantiano da Paz Perpetua.
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