Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Alexandre
Ribeiro é jornalista, foi editor no Brasil do site católico de notícias Zenit e
é atualmente editor do site Aleteia. É membro do Conselho do Núcleo de Fé e
Cultura da PUC-SP
O meu pai vem de uma cidade pequena do sul de Minas. Ele me
contava que a honestidade era algo muito valorizado por lá. Todos tinham
palavra, e se podia confiar uns nos outros. Até porque, sendo um povoado
pequeno, se alguém faltasse com a honestidade, todos ficariam sabendo.
Hoje, de certa forma, vivemos numa cidadezinha. Pelo menos
no sentido de que os malfeitos estão mais difíceis de esconder. Uma hora ou outra,
alguém bate à porta da nossa timeline para contar em detalhes os mais recentes
escândalos. Mas não só de notícias ruins vive o mundo virtual.
A internet nos permite aprofundar um aspecto fundamental da
vida em sociedade: a cooperação. A base de uma sociedade é a cooperação. Duas
pessoas cooperam entre si quando o comportamento social de cada uma delas é
valioso para a outra ou para um terceiro.
Os primeiros evolucionistas, entre eles o prêmio Nobel de
Medicina Konrad Lorenz (1903-1989), afirmavam que ao lado da cooperação vinha
sempre a competição. A luta pela existência seria uma dinâmica entre cooperar e
concorrer. Mas competir não significa necessariamente prejudicar ou causar
danos ao próximo. Significa reconhecer que a sua expressão esbarra com a de
outros.
Apesar das tensões que existem entre as pessoas e os grupos,
a cooperação é um valor maior do que a competição. Como a própria natureza
ensina, a cooperação é indispensável para a sobrevivência. As espécies que
mantêm relações simbióticas – ou seja, relações de cooperação, nas quais
indivíduos e grupos se beneficiam uns dos outros – acabam apresentando melhores
condições de vida e descendência. Cooperar e compartilhar os seus valores
individuais, como por exemplo a sua honestidade e a sua disponibilidade em
ajudar, contribui realmente para o desenvolvimento da sociedade.
Aqueles que se comportam na contramão da cooperação,
pautados pelo egoísmo e a busca de vantagens ilícitas, estão fadados a um
destino desfavorável. O seu voo, de aparente sucesso, é curto.
Os políticos corruptos e seus súditos, por exemplo, hábeis
em se infiltrar em todos os partidos, ideologias e setores da sociedade, não
entendem que não podem comprar um destino favorável. Assim, eles costumam viver
em bandos, buscando cúmplices, pois sempre têm algo a esconder. Sua marca é a
miséria humana, pois se sentem ameaçados pela vida, pelo próximo e por todos
que sabem amar e cooperar.
A ação direta ou indireta dos cidadãos contra a corrupção é
imprescindível. E nisso as redes sociais na internet podem ser de grande
utilidade. A internet é uma ferramenta de grande potencial no combate aos
corruptos e na busca de mais cooperação entre os indivíduos. Quando os usuários
das redes sociais têm como norte o comportamento simbiótico, ou seja, aquele
que busca a cooperação e o compartilhamento de valor, eles estão
automaticamente combatendo os grupos antibióticos e parasitários, que são
aqueles que causam prejuízo à sociedade e querem ganhar em cima da perda de
outros.
Quando você navegar nas redes sociais, procure observar se
está estimulando a cooperação e a difusão de comportamentos valiosos. Por outro
lado, pressione os corruptos e parasitas. E assim, mesmo que de forma
aparentemente imperceptível, você estará dando à megalópole digital aquele ar
de cidadezinha do interior. Um lugar onde a palavra e a conduta têm valor, e
onde os corruptos não têm vez.
Jornal "O São Paulo", edição 3107, 22 a 28 de junho
de 2016.
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