quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A Encarnação e a renovação da Igreja

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte
Francisco Catão

Em ritmo de sínodo, a teologia nos convida a ir às fontes da renovação da Igreja, Corpo de Cristo e, portanto, à Encarnação, que lhe está na origem.
A Encarnação é a vinda de Deus à criação, não apenas como Criador, dando-lhe a existência, mas conferindo-lhe a possibilidade de participar de sua vida.
Vinda de Deus que, sendo comunicação de sua vida, nos permite chamá-lo de Pai e O acolhermos na liberdade, num ato de correspondência ao Amor, animado pelo Espírito de Jesus.
A Encarnação é, pois, uma realidade espiritual, um “mistério”, um ato de Deus, eterno, que transcende o tempo, ontem, hoje e sempre, mas que marca profundamente toda a História.
Foi preparada desde as origens, através de sucessivas alianças e realizada historicamente em Jesus, cuja ressurreição comunica o Espírito, que formamos a Igreja, expressão históricas, sacramento, da união com Deus e da unidade do gênero humano (Vaticano II) até a consumação final no Reino de Deus.
Sendo ato de Deus, mistério, não nos é dado a conhecer senão através da experiência humana, em que todos os nossos atos são fruto de uma decisão, uma escolha. Dizemos então que Deus Pai escolheu um povo e o preparou para se unir espiritualmente ao seu Filho.
O ato de união se realizou com o consentimento de uma jovem, filha desse povo, virgem totalmente voltada para Deus, inclusive na sua maternidade, resultante da união com Deus no Espírito, santificada desde sua concepção.
A vida humana de Jesus, sendo a vida do Filho de Deus, sua Palavra encarnada – “o Verbo se fez carne” – é o Caminho a ser seguido por todos nós, para alcançarmos a Verdade, a plenitude da Vida, a que todos somos chamados.
Caminho de Jesus, que passa pela rejeição, pela paixão, pela morte e pela ressurreição, e deve ser seguido por todos nós, não tanto na sua materialidade histórica ou social, mas no (seu Espírito, o) Espírito de Jesus que buscou, nos seus relacionamentos, sociais e políticos, sempre em primeiro lugar o Reino de Deus.
Esse o sentido da vida de todos nós, homens e mulheres, na sua maior diversidade cultural, social e política, a ser testemunhado pelos cristãos, pessoal e comunitariamente como Igreja, até o fim dos tempos.
(Entende-se assim porque dizemos), Como cristãos, devemos proclamar, pela vida e pela palavra, que a salvação, o caminho de Jesus, é universal, um dado histórico, um acontecimento que está na base de uma visão do mundo dá sentido à História, orienta a ética e inspira uma mística, que desperta um processo de renovação contínua da vida humana pessoal e social que está no horizonte de todo sínodo.
Somente nesse contexto entendemos a afirmação da Igreja, lamentavelmente nem sempre confirmada pelos fatos, de ser uma, santa católica e apostólica. No entanto, apesar das muitas divisões de que padece, dos pecados que cometemos, dos sectarismos que alimentamos, da inércia e dos conformismos que desfiguram nossa maneira de agir como cristãos, é na misericórdia do Pai que confiamos.
Agimos muitas vezes como se a vida da Igreja dependesse unicamente de nós, das autoridades, da administração, das celebrações, das campanhas, dos movimentos e dos eventos que constituem a trama de sua existência histórica, mas na verdade, a vida da Igreja é prolongamento da Encarnação, decorrente da ação de Jesus, por seu Espírito.
Cabe a nós, na pequenez do nosso dia a dia, como à Virgem Maria e sob sua guarda, dizer sim a Deus, que vem a nós.
Jornal "O São Paulo", edição 3181, 10 a 16 de janeiro de 2018.

Nenhum comentário:

Postar um comentário