segunda-feira, 31 de julho de 2017

“O maior e mais belo mosteiro beneditino do Mundo”

Mosteiro de Monreal
Maria Luiza Marcílio é professora titular de História da Universidade de São Paulo. Foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP e do Instituto Jacques Maritain do Brasil. Fez seu doutorado na Université de Paris (Sorbonne). Foi professora visitante nas Universidades do Texas, Berkeley e Puerto Rico (EUA); do Minho (Portugal) e de Paris (França).

Esta afirmação é dos especialistas em Historia Beneditina, da Universidade de Palermo. O mosteiro é surpreendente! Hipnotiza o visitante, deslumbrado pelo esplendor de luz, pelas cores e pelas alturas de seus múltiplos quadros, todos em mosaicos! A Igreja e o Mosteiro de Monreal ficam na capital da Ilha da Sicilia, em Palermo, na Itália.
Sua edificação nos leva à época em que o Reino normando da Sicilia vivia em seu apogeu, ou seja, no reinado de Guilherme II (1172-1189). Um dos frutos mais significativos desse momento foi a fundação da Catedral e da Abadia beneditina de Monreal. A invasão dos Normandos, no inicio do século XI na Itália meridional, foi seguida da longa conquista da Sicilia. O rei normando Roger II foi coroado rei de Palermo em 1130 e esse reino durou séculos. Enquanto o Mediterrâneo esteve sob o controle absoluto dos árabes, a Cristandade ocidental passou então a dispor de um ponto de partida no Mediterrâneo, para sua dominação. Os normandos transformaram radicalmente a Ilha, que se tornou majoritariamente romana na religião, essencialmente latina no plano lingüístico e européia ocidental na cultura. Os normandos passaram a Ilha à obediência do Papa. Uma vez terminada a conquista o rei normando fundou igrejas e o sucessor o rei Guilherme II voltou-se para Monreal e para a fundação de um Mosteiro com seu maravilhoso Claustro, anexo à igreja que ultrapassou por sua riqueza, extensão e valor, a todas as anteriores.
Segundo uma lenda, a origem da Igreja e Mosteiro beneditino se deve a um sonho do Rei da Sicilia, o normando Guilherme II. A lenda narra que certo dia Guilherme adormeceu sob uma árvore no campo e em sonho apareceu-lhe a Virgem Maria, que disse: "Neste lugar onde dormes está escondido o maior tesouro do mundo. Escava-o e com ele construa um templo em minha homenagem". Seguindo o mandado, ao acordar o rei ordenou que o local fosse escavado e ali encontrou um tesouro em moedas de ouro, que foram empregadas na construção do santuário. Para a decoração foram chamados mestres árabes, venezianos e bizantinos especializados na técnica do mosaico, que ajudaram a construir o Mosteiro, cobrindo-o da abside às altas paredes laterais, com painéis de excepcional valor artístico.
A Catedral de Monreal supera em altura, comprimento e altura a todas as demais abadias beneditinas. É também a única em beleza na composição da arte do mosaico policromo e dourado. No centro e no ponto mais alto, sobre o altar mor, esta o mosaico de Jesus Cristo, o Pantocrator (o todo poderoso). Ele nos persegue, onde quer que andemos no interior do templo, com seu olhar severo e ao mesmo tempo cheio de ternura. Junto e em seu redor vem a sua corte celeste composta por anjos, profetas e santos.
Nas altas paredes laterais há uma divisão em dois níveis. No primeiro, mais baixo, estão reproduzidas cenas do Antigo Testamento. Acima deste e separando-o do segundo nível, há um friso nitidamente influenciado pela tradição da arte islâmica. Nesse nível e separadas por vitrais com vidro incolor, estão cenas do Novo Testamento; fechando-as no mais alto, largo friso, com bustos dos apóstolos e de santos. O teto da Basílica é em madeira pintada de cores. Sustentando essas paredes estão colunas, em pedra única, montadas por arcadas com capitéis esculpidos em motivos diversos.
O conjunto dessa obra esplendida sobe como um hino ao Verbo eterno, entrado na História como criador, redentor e juiz. O todo é rico de uma profunda significação simbólica. Ela contem a resposta ao drama do homem cuja resposta é Deus. Os mosaicos da Catedral do Monreal representam sobretudo a descrição da historia do mundo, em sua versão bíblica, que começou pela criação e terminou pela atividade dos Apóstolos que fizeram conhecer e engrandecer a Igreja de Cristo no mundo. O piso também merece atenção pelo refinado trabalho em mosaicos de mármores e pórfiro.
A obra inteira foi realizada em curto espaço de tempo. O rei ofereceu a catedral à Virgem Maria Nuova, e a cerimônia de consagração se deu em 1166.
O Claustro, ao lado, ultrapassou todos os demais, completando o esplendor da Catedral, mostrando a luxuriante sequência da escultura de seus 216 capitéis, que chegaram até nós quase intactos. Em cada lado desse quadrado é mostrado um serie de arcos em ogivas que se abrem ao interior sobre um jardim do convento. Nesse jardim gramado, em cada um de seus cantos há um arvore de simbologia diversa. A palma é emblema clássico da fecundidade e da vitoria. A romãzeira é considerada como um dos produtos da terra prometida, como símbolo do Paraíso Celeste e da Igreja. A figueira considerada como o alimento, o mais importante. A oliveira, pois dela se extrai o óleo santo, uma das matérias sacramentais. No ângulo Sudeste se encontra o Pequeno Claustro, no centro do qual esta a fonte que inspirou a admiração comovida de poetas e artistas. Nos quatro lados do Claustro sucedem os arcos com suas duplas colunas e capitéis de pedra única, esculpidas com cenas diversas, que encantam e fascinam. As colunas, em numero de 228 suportam os capitéis, com suas variadas formas onde os artistas esculpiram na pedra motivos os mais diversos. Vai-se das cenas da vida de Jesus às cenas do Antigo Testamento, passando por cenas de caça, de colheitas, de combate entre guerreiros supondo o conhecimento completo da simbologia medieval. Apenas uma equipe de cinco mestres, esculpiu as duplas colunas e seus capitéis, quase todos de origem da França meridional, assistidos por um numero impreciso de ajudantes que deveriam ser marmoristas, escultores, compositores, dizem os especialistas em Historia da Arte sacra.
No mosteiro não há mais monges desde a Unificação da Itália, quando o Rei Vitor Emanuel II, em um de seus primeiros atos, decretou, em 1860, a estatização de todos os mosteiros da Itália. O Claustro e Mosteiro de Monreal tornaram- se museu, abertos à visitação publica.

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