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Cláudio Pastro |
Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
O paulistano Cláudio Pastro morreu na madrugada do dia 19 de outubro. Era considerado internacionalmente como o mais importante artista sacro brasileiro e um dos maiores do mundo.
Nascido no Tatuapé, em 1948, recebeu na infância, das
irmãzinhas da Assunção, uma formação religiosa marcada pela beleza da liturgia
e pela objetividade da relação da pessoa com Deus. Posteriormente, se aproximou
da Ordem Beneditina e tornou-se oblato do Mosteiro Nossa Senhora da Paz, em
Itapecerica da Serra, sua casa espiritual em vida e onde foi sepultado.
Trajetória artística
No início da década de 1970, foi trabalhar como voluntário
na periferia de São Paulo, dando aulas de artesanato nas favelas de São Mateus.
Foi lá que conheceu Comunhão e Libertação, movimento católico responsável pelo
início de sua trajetória artística.
Considerada a mais marcante influência na vida de Pastro,
Madre Dorotéia Rondon Amarante, abadessa do Mosteiro da Paz, o formou e o
incentivou a conhecer os grandes mestres do Concílio Vaticano II, como Odo Casel
e Romano Guardini.
Cláudio estudou arte na Abbaye Notre Dame de Tournay
(França), no Museu de Arte Sacra da Catalunha (Espanha), na Academia de Belas
Artes Lorenzo de Viterbo (Itália), na Abadia Beneditina de Tepeyac (México) e
no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. As origens de sua arte, contudo,
sempre foram sua experiência de fé, marcada pela beleza da liturgia, e sua
vivência junto aos mosteiros beneditinos.
No final da década de 1990, foi convidado para sua obra mais
importante: concluir o interior da Basílica de Aparecida, que na época tinha as
paredes nuas, sem nenhuma obra de arte. Ainda no início dos trabalhos, em
função de uma crise hepática, entrou num coma que durou quarenta dias.
Praticamente renascido, seus últimos anos foram marcados
pelos sofrimentos advindos de uma saúde muito comprometida e por uma produção
artística que impressionava a ele mesmo. Nunca havia produzido tanto ou sido
tão reconhecido.
A renovação dos
espaços sagrados
Os especialistas de patrimônio cultural consideram os
templos religiosos como obras físicas “mortas”, a serem preservadas para
retratar um período histórico. Pastro os considerava como obras vivas, fruto da
interação permanente da comunidade de fieis com as estruturas materiais. Por
isso, afora casos específicos de alto valor histórico, considerava que o templo
tinha que passar sempre por um processo de renovação que mantivesse suas
raízes, mas também acompanhasse a evolução da comunidade.
Assim, seguindo o espírito do Concílio Vaticano II, concebeu,
em 1988, o primeiro espaço celebrativo no Brasil que seguia as normas
litúrgicas pós conciliares: a Capela da Hospedaria do Mosteiro Beneditino de
Brasília.
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Capela da Hospedaria do Mosteiro Beneditino de Brasília |
As comunidades, das pessoas simples do interior do Brasil aos
membros de grandes associações europeias, sempre gostaram e se renovaram com
suas obras. Por isso, hoje em dia, existem centenas de espaços religiosos de
sua autoria no Brasil, na Itália, Alemanha, França e Espanha.
Caso exemplar é o Pátio do Colégio, marco da fundação de São
Paulo. A igreja colonial que ali existia praticamente desabou no século XIX e o
espaço passou à prefeitura, sendo retomado pelos jesuítas só em 1953.
Pastro não quis reconstruir a igreja colonial, pois essa não
mais existia e refazê-la seria uma falsidade. Usando azulejos (material típico
do Brasil colônia) refez a igreja internamente, de modo a recuperar a memória
de seu significado histórico, mas incorporando as normas litúrgicas preconizadas
pelo Concílio Vaticano II e a estética da atualidade.
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Capela do Pátio do Colégio |
Associação Cláudio
Pastro
Após sua morte, a catalogação de sua imensa obra (cerca de
300 igrejas espalhadas pelo mundo e um número incontável de quadros, esculturas
e objetos litúrgicos) está a cargo da Associação Cláudio Pastro – Ars Sacra. A
ela cabe agora o encargo de tornar esse patrimônio acessível e conhecido por
todos.
Jornal "O São Paulo", edição 3125, 26 de outubro a
1º de novembro de 2016.
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