segunda-feira, 9 de maio de 2016

Corrupção X Fraternidade

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte
Ivanaldo Santos é doutor em filosofia e professor do Departamento de Filosofia do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN.

Em um recente relatório a ONU apontou a corrupção como um dos maiores fatores que causam o subdesenvolvimento e toda forma de problema social. Os países mais afetados por esse grande problema são os países do terceiro mundo, incluindo o Brasil.
Paralelo ao relatório da ONU, atualmente vemos no Brasil um raro momento de consciência cívica e de combate à corrupção. Um momento carregado de dúvidas, de angústias e de protestos nas ruas. De um lado, existem grupos que afirmam que o Brasil sempre foi corrupto, que a corrupção é uma instituição nacional e que, por isso, nada mudará. Do outro lado, existem cidadãos que desejam, de fato, mudar o país, torná-lo mais fraterno, são pessoas que lutam por melhores condições de existência.
O Papa Francisco tem feito reiterados pronunciamentos condenando a corrupção. Por exemplo, na Bula Misericordiae Vultus, na qual ele convoca o Ano da Misericórdia, no Parágrafo n. 39, ele afirma: “A corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres. É um mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos públicos. A corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão do dinheiro como forma de poder. É uma obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga”. Já na homilia de 4/6/2013, ele esclarece que “São Pedro foi pecador, mas não corrupto, ao passo que Judas, de pecador avarento, acabou na corrupção. Que o Senhor nos livre de escorregar neste caminho da corrupção. Pecadores sim, corruptos, não”.
O cristão precisa compreender que a corrupção é um pecado que “clama a Deus” (Salmo 57, 2) e “clama por justiça” (Deuteronômio 33, 19). Por isso, um cristão não pode estar envolvido em casos e escândalos de corrupção.
Atualmente muitos grupos clamam para que sejam criadas novas e duras leis anticorrupção. Um clamor justo. No entanto, deve-se ter consciência que apenas a criação de leis não resolverá o crônico problema da corrupção no Brasil.
Dentro desse quadro, a Igreja é convocada a estabelecer uma cultura da fraternidade, uma cultura que não seja meramente emocional e populista, mas que esteja voltada para o outro, para o mais próximo. A cultura da fraternidade visa retirar o homem do egoísmo e, por isso, afastá-lo a corrupção. Ela mergulha o ser humano na dimensão da genuína preocupação com as reais necessidades do outro, da comunidade e da pessoa humana. Por isso, além da criação de novas leis, para se combater a corrupção é necessário ensinar ao cidadão a ser fraterno.
Jornal "O São Paulo", edição 3100, 4 a 10 de maio de 2016

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