Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
José Mário Brasiliense Carneiro, advogado com doutorado em Administração, Diretor da Oficina Municipal, uma escola de cidadania e gestão pública vinculada à Fundação Konrad Adenauer e
conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Estive recentemente em Registro, cidade situada no sudeste paulista,
onde participei de uma reunião promovida em parceria pelo Consórcio
Intermunicipal para o Desenvolvimento do Vale do Ribeira (CODIVAR), formado por
23 municípios, e pelo Comitê de Bacia do Vale do Ribeira do Iguape e Litoral
Sul. Foi um encontro de trabalho que reuniu prefeitos, secretários e técnicos
de Prefeituras, bem como, representantes do mundo acadêmico, empresarial e da
sociedade civil.
O tema foi o Plano Estratégico de Desenvolvimento
Sustentável do Vale do Ribeira e o objetivo foi iniciar a construção de uma
proposta de desenvolvimento econômico em harmonia com a promoção social e a
proteção ambiental. Interessante notar que em uma discussão de caráter técnico
e político surgiram valores e princípios muito sintonizados com aqueles que
estão contidos na encíclica Laudato Si,
do Papa Francisco, em favor da ecologia humana e ambiental.
A qualidade das exposições e dos diálogos entre os
participantes, que ocupam distintos papéis de liderança, nos planos municipal e
regional, me encheu de esperança na política. Fez-me acreditar que, como
afirmou Paulo VI, a política é uma expressão da caridade em favor do bem comum
e da dignidade da pessoa humana.
Aquele encontro de Registro teve caráter suprapartidário e intersetorial
o que permitiu uma efetiva aproximação entre instituições, cidadãos e autoridades
que normalmente não se encontram. Da mesma forma, os grupos econômicos ali
representados se mostraram atentos às necessidades socioambientais, bastante conscientes
da função social da propriedade e da importância de se estabelecer parcerias em
favor das comunidades e das áreas de proteção.
A busca pelo bem comum em nível regional exigiu dos
participantes uma abertura ao diálogo visando encontrar alternativas para o
desenvolvimento fundadas na solidariedade. Somado a isso, os discursos em favor
de uma maior autonomia regional indicavam que a cooperação intermunicipal seria
fundamental para o sucesso do plano.
Surgiu também a questão da articulação federativa com o
estado e a união de modo que os investimentos públicos das esferas superiores passem
a ser melhor direcionados para as reais necessidades locais, em conformidade
com o princípio da subsidiariedade. Os participantes (re)descobriram o
potencial da dinâmica regional e pareceu-nos que, de fato, este poderá ser um caminho
alternativo para política e para a economia do Vale do Ribeira.
A política sem dúvida necessita de líderes “de carne e osso”,
sensíveis a sua própria realidade e com espírito de serviço. Notamos que estes
líderes, em especial os mais jovens, querem ser apoiados por iniciativas de formação
política, bem como, estão em busca de oportunidades para formação em planejamento
e gestão de políticas públicas, de modo a exercer funções de protagonistas nesta
nova fase da democracia brasileira que está despontando.
Por tudo isso compartilho esta experiência que tive no Vale
do Ribeira acreditando que algo semelhante possa ocorrer em outros vales pelo
Brasil a fora. Creio que os cidadãos e as lideranças políticas estão sendo convocadas
colocar seus talentos a serviço da sociedade, transformando nossa cultura
política e administrativa a partir das cidades. Quem sabe alguns destes líderes
locais e regionais possam um dia chegar à Brasília trazendo consigo a crença de
que as comunidades locais podem fazer muito em favor do país e nem tudo precisa
ser resolvido em Brasília.
Jornal "O São Paulo", edição 3102, 18 a 24 de maio
de 2016.
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