Contracorrente: As
bem-aventuranças
Introdução
Para vivermos a
santidade aqui e agora, numa experiência cristã autêntica, é preciso ouvir as palavras
de Jesus e assimilar seu modo de transmitir o mistério da intimidade com Deus.
Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo, ao proclamar as
bem-aventuranças, que são como que o bilhete de identidade do cristão (GE, Nº 63).
Usa a palavra
«bem-aventurado» ou «feliz», que aqui é sinônimo de «santo», porque expressa a experiência
de quem é fiel a Deus acolhe sua Palavra e se doa a Ele e ao próximo, alcançando
a verdadeira felicidade (Nº 64).
Francisco Catão
Percorrendo o texto
As bem-aventuranças
não são, absolutamente, um compromisso leve ou superficial; pelo contrário, só
as podemos viver se o Espírito Santo, que animou a vida de Jesus, animar também
a nossa. Nas bem-aventuranças Jesus manifesta a fonte de sua alegria, o Amor, e
nos convida a compartilhá-la (Nº 65). Escutemos Jesus com todo o amor que
merece (Nº 66).
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«Felizes os
pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu»
O Evangelho de
Mateus convida-nos a reconhecer a verdade do nosso coração, para ver onde
colocamos a segurança da nossa vida (Nº 67). A pobreza de espírito está
intimamente ligada à «santa indiferença» (Santo Inácio de Loyola): “indiferentes
face a todas as coisas criadas, de tal modo que, por nós mesmos, não queiramos
mais a saúde do que a doença, mais a riqueza do que a pobreza” (Nº 69).
Lucas não fala duma
pobreza «em espírito», mas simplesmente de ser «pobre», convidando-nos assim a
uma vida também austera e essencial (Nº 70).
Ser pobre no
coração: isto é santidade
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«Felizes os
mansos, porque possuirão a terra»
É uma frase forte,
neste mundo, um lugar onde se litiga por todo o lado, onde há ódio em toda a
parte, onde constantemente classificamos os outros pelas suas ideias, seus
costumes, sua cor e até sua forma de falar ou de vestir-se. Reino do orgulho e
da vaidade, onde cada um se julga no direito de se impor aos outros (Nº 71). A
mansidão é outra expressão da pobreza interior, de quem deposita a sua
confiança apenas em Deus (Nº 74).
Reagir com humilde
mansidão: isto é santidade.
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«Felizes os que
choram, porque serão consolados»
Só a pessoa que vê
as coisas como realmente estão, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu
coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz (Nº
76).
Saber chorar com os
outros: isto é santidade.
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«Felizes os que
têm fome e sede de justiça, porque serão saciados»
«Fome e sede» são
experiências intensas, correspondem a necessidades primárias e têm a ver com o
instinto de sobrevivência. Jesus diz que serão saciadas as pessoas que aspiram
pela justiça e a buscam com um forte desejo, porque a justiça, mais cedo ou
mais tarde, chega e nós podemos colaborar para o tornar possível (Nº 77). Esta
justiça começa por se tornar realidade na vida de cada um, sendo justo nas
próprias decisões. Depois manifesta-se na busca da justiça para os pobres e
vulneráveis (Nº 79).
Buscar a justiça
com fome e sede: isto é santidade.
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«Felizes os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»
Dar e perdoar é
tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá
e perdoa sem limites (Nº 81). Jesus não diz «felizes os que planejam vingança»,
mas aqueles que perdoam e o fazem «setenta vezes sete» (Nº 82).
Olhar e agir com
misericórdia: isto é santidade.
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«Felizes os
puros de coração, porque verão a Deus»
Puro de coração é
quem tem um coração simples, sabe amar e não deixa entrar na sua vida algo que
atente contra esse amor, o enfraqueça ou coloque em risco (Nº 83). “Com cuidado
guarda teu coração , pois dele procede a vida. O Pai, que «vê no oculto»,
reconhece o que não é sincero e de igual modo também o Filho sabe o que há em
cada ser humano (Nº 84)
É verdade que não
há amor sem obras, mas esta bem-aventurança lembra-nos que o Senhor espera uma
dedicação ao irmão que brote do coração, pois se não tiver amor, as obras de
nada valem (Nº 85).
Manter o coração
limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade.
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«Felizes os
pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus»
Os pacíficos são
fonte de paz, constroem paz e amizade social. Àqueles que cuidam de semear a
paz por todo o lado, Jesus faz-lhes uma promessa maravilhosa: «serão chamados filhos
de Deus». (Nº 88). Paz evangélica não exclui, antes, integra mesmo as pessoas
diferentes, fustigados pela vida ou que cultivam outros interesses (Nº 89).
Semear a paz ao
nosso redor: isto é santidade.
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«Felizes os que
sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu»
O próprio Jesus
sublinha que este caminho vai contracorrente, transformando-nos em pessoas que
questionam a sociedade com a sua vida, e incomodam (Nº 90). Nem tudo é
favorável a quem vive o Evangelho As ambições de poder e os interesses mundanos
jogam contra nós (Nº 91). A cruz, as fadigas e os sofrimentos que suportamos
para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, são fontes de e
santificação (Nº 92).
Refiro-me, porém, às
perseguições inevitáveis, não às provocadas pelo nosso modo errado de tratar os
outros. Também hoje as sofremos quer de forma cruenta, como tantos mártires
contemporâneos, quer de maneira mais subtil, através de calúnias e falsidades (Nº
94).
Abraçar diariamente
o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade.
Jornal "O São Paulo",
edição 3197, 3 a 8 de maio de 2018.
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