Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Borba Ribeiro Neto,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Na madrugada
de 1º de maio, não desabou apenas um edifício no Largo Paiçandu, em São Paulo,
tombado e ocupado irregularmente por famílias. Desabou – uma vez mais – a
ilusão de uma sociedade orientada para o bem comum.
O drama da
falta de moradias para famílias de baixa renda se arrasta há décadas tanto na
cidade quanto no País. Não seria justo negar os avanços nos programas sociais
de moradia para populações de baixa renda, mas não deixa de ser impressionante
que, na cidade mais rica do Brasil, se estime que seriam necessários 120 anos
para zerar o déficit habitacional do município, mantendo-se os investimentos
atuais.
É justíssimo
cobrar a responsabilidade do Estado diante de tais dramas – de todos que não
têm moradia digna e das vítimas do desabamento, em particular. Porém, a ação do
Estado não é mais que a somatória dos vários governos que se sucedem. Nos
últimos 25 anos, a prefeitura de São Paulo foi ocupada por cinco partidos
diferentes, dos mais diversos coloridos ideológicos. Nenhum deles consolidou um
caminho de solução para o problema (ou conseguiu ficar tempo suficiente no
poder para consolidar uma solução).
O problema
não é só dos políticos, nem de um Estado abstrato que paira acima de todas as
contradições sociais. É de todos nós: para ser solucionado, depende do quanto
pensamos a solidariedade e o bem comum como critério objetivo nas eleições e na
organização da nossa vida.
Individualmente,
e mesmo como grupo social, nenhum de nós é culpado por essa situação. Porém,
nada mudará para melhor sem uma vontade política solidária, que dê apoio, força
e estabilidade para programas sociais que resolvam os problemas da cidade –
fugindo das armadilhas ideológicas que podem ser encontradas nos dois lados do
espectro ideológico.
Uma
sociedade que não é solidária, na qual os cidadãos não deixam, pelo menos em
alguns momentos, seus interesses particulares de lado em função da realização
do bem comum, não consegue resolver seus problemas de forma adequada e todos
acabam perdendo com isso.
Sem
solidariedade e busca pelo bem comum, todos perdem – ainda que os pobres sejam
os que mais sofrem. Essa era a mensagem do Papa Bento XVI, na Caritas in veritate,
para não falar nos vários textos do Papa Francisco.
A degradação
do centro de São Paulo é o reflexo de uma falta de solidariedade – ou pelo
menos de uma solidariedade que não consegue ganhar consistência e estabilidade
política. Prédios abandonados e/ou desocupados, moradores de rua espalhados
pelo centro, cracolândias, retratam o desmoronamento do bem comum.
Entre nós, dois
mitos se antepõem à construção do bem comum:
1) A crença
de que o Estado é o responsável único pelo bem comum. Pagamos nossos impostos
para que ele se ocupe dos problemas sociais por nós. Não percebemos que o
Estado social só tem dado certo em países onde a sociedade civil está muito
organizada e os cidadãos assumem seu papel cívico, tanto nas eleições quanto no
dia a dia.
2) A ilusão
de que basta acabar com a corrupção para que sobre dinheiro para resolver os
problemas sociais do Brasil. Nossa renda per capita é baixa, a desigualdade
material muito alta, o corporativismo e o fisiologismo dos políticos muito
grande. A corrupção não acabará rapidamente e mesmo que acabasse o Estado ainda
teria dificuldade para financiar todos os investimentos sociais necessários
para o País.
Temos que
cobrar ações efetivas do Estado, temos que combater a corrupção – mas também
temos que dar nossa contribuição pessoal para que uma vontade política
solidária determine os rumos da gestão da cidade de São Paulo.
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