Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Wagner Balera
Há poucos dias
assistíamos, estarrecidos, a uma incursão militar encetada por três
superpotências com o escopo de garantirem, supostamente, a eliminação de
depósitos de armas químicas existentes em território da tão sofrida síria.
O chorrilho de
misseis – não se sabe bem quantos porque há uma guerra de informação dentro da guerra
da Síria – teria função cirúrgica.
Portanto, de nenhum modo seriam atingidas pessoas humanas.
Como que num
terrível ensaio de revival da guerra fria e, no limite, de conflito de maiores
proporções (o que foi o estopim que desencadeou a primeira guerra?) atores que
deveriam envidar todos os esforços para a solução pacífica dos conflitos, tal
como preconiza a Carta das Nações Unidas, tomam à frente de conflitos graves,
verdadeira guerra civil, como se lhes fosse dada pela comunidade internacional
a função de entes tutelares deste ou daquele país. .
É tempo de
voltarmos à sabia lição de João XXIII que se acha estampada na Pacem in terris, que busca entender e indicar que a justa e equilibrada
relação entre Estados depende da adequada abordagem de quatro conceitos
fundamentais: a verdade, a justiça, a liberdade e o amor.
A partir desse
olhar cristão sobre quaisquer conflitos, convém recordar, bem poderíamos
indagar o que se passa na Síria.
É verdade que
houve a utilização de armas químicas? O precedente do Iraque, relativamente,
recente, não permite resposta pronta e cabal.
É justo sujeitar o
povo sírio às aflições de um ataque de curso imprevisível e de consequências
idem?
A liberdade, como
eixo de discussão de todo o processo condutor à paz naquele pais exige, de
todos, sem exclusão de ninguém, responsável compromisso com cada uma das ações
que intenta. Não posso libertar o outro se me valho, para tanto, de mais
guerra, de mais demonstração de poderio militar. Devo, antes, conter os
excessos; evitar os erros e fazer todo o esforço para que a mesa de negociações
esteja sempre posta.
Jamais será
conquistada a paz, não apenas na Síria, mas em todo e qualquer lugar do mundo
onde os conflitos se apresentam, se o coração humano não estiver aberto ao
amor, qualidade inerente a Deus, como explicita João.
O amor rejeita
todas as fórmulas de destruição, inclusive aquelas que são travestidas de
funções corretivas e dissuasórias.
Ocorre que a paz é
tão exigente quanto o amor, em certo sentido.
A paz depende,
para além da perspectiva individual, aquela que situa o todo, a coletividade.
Exige que a sociedade mundial seja mais justa; mais humana.
O estado de coisas
atual fomenta as guerras internas (como a da Síria) e as ingerências dos
todo-poderosos.
Bem percebeu essa situação São João XXIII quando perguntou: “Esquecida
a justiça, a que se reduzem os reinos senão a grandes latrocínios? ”
As armas a favor da paz, para
invocarmos a epígrafe da Mensagem lançada por Paulo VI, em 1976, estão
sintetizadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos - que bem pode ser
considerado o guião para a paz, para a justiça, para o amor e para a liberdade.
Urge a convocação urgente de uma
conferência de paz para a Síria. Mas essa conferência deve ter o amor como
pauta; deve ser o caminho para a civilização do amor.
Jornal "O São Paulo",
edição 3197, 3 a 8 de maio de 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário