Wagner Balera
Numa de suas mais conhecidas mensagens de rádio, levada ao
ar em dezembro de 1944, Pio XII assinalava que a dignidade do homem é a
dignidade da imagem de Deus.
Esse mesmo mote é utilizado na Declaração Conciliar Dignitatis Humanae, sobre a Dignidade
Humana, de 7 de dezembro de 1965, relativa à liberdade religiosa, condição
mesma de preservação da dignidade humana.
O homem, para além de sua condição natural é pessoa e,
enquanto tal, revestido em dignidade e direitos, como proclama solenemente a
Declaração dos Direitos Humanos, de 1948.
Aliás, como assinalara São João Paulo II em discurso que
proferiu perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1979, toda a
atividade política – nacional ou internacional – só tem sentido porque: provém
"do homem", se exercita "mediante o homem" e é "para o
homem". Se tal atividade se aparta desta fundamental relação e finalidade,
se chega a tornar-se, nalgum sentido, fim para si mesma, então perde
grande parte da sua razão de ser. E mais ainda, ela pode tornar-se mesmo fonte
de uma específica alienação; e pode tornar-se estranha ao homem; pode cair em
contradição com a própria humanidade.
A dignidade é a
fórmula feliz pela qual a unidade da pessoa (alma e corpo) revela sua
particular expressão, pela qual um ser ligado materialmente ao corpo é,
igualmente espiritualmente voltado para o transcendente.
Importa referir, ainda, que da dignidade derivam, a
liberdade e a igualdade. É verdade que a primeira pode precipitar o homem no
terreno dos vícios pelos quais será responsabilizado, igualmente, no corpo e no
espírito. Mas é igualmente verdade que a liberdade pode e, nas mais das vezes,
assim atua, fazer com que o homem exercite as virtudes e faça render seus
talentos, poucos ou muitos, seguindo à risca a lei moral e aceitando a distinta
maneira de ser até mesmo daqueles que lhe são claramente opostos.
A dignidade, como sublinha o Compêndio da Doutrina Social da
Igreja exige o saudável reconhecimento do pluralismo social. É inadmissível que
sejam restringidas as expressões de pensamento d e de ação dos outros, porque
não pensam ou agem da mesma maneira que alguma maioria ocasional.
A marcante proclamação, levada a efeito pelas Nações Unidas,
dos direitos humanos, universais, indivisíveis e inalienáveis decorre
diretamente da dignidade da pessoa, e exige respeito assim dos direitos
materiais sem os quais a pessoa humana não vive como, igualmente, da livre
conquista do bem espiritual.
A dignidade faz, por fim, que percebamos quanto a profética
advertência de São João XXIII, a respeito da universalidade da questão social,
se tornou uma realidade irreversível, a exigir cada vez maior integração entre
os povos do mundo.
Jornal "O São Paulo", edição 3178, 6 a 12 de
dezembro de 2017.
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