Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ana Lydia Sawaya
Analistas tem dito que o Brasil pode estar passando por um
processo descivilizatório (regredindo em termos de civilização), o que já é
bastante grave; e mais recentemente o relatório do Banco Mundial “Competência e
Emprego: Uma Agenda para a Juventude” revelou que 52% dos jovens, ou seja, mais
da metade dos jovens entre 19 e 25 anos não tem futuro profissional adequado e
caminham em direção à pobreza.
Quem são eles? 11 milhões são “nem – nem”, ou seja, não
trabalham nem estudam, e os outros estão nas seguintes condições: frequentam a
escola, mas estão muito atrasados na formação, ou trabalham na informalidade
fazendo bicos. O Relatório afirma ainda que a baixa competitividade das
empresas brasileiras gera uma não demanda por profissionais bem qualificados e
estáveis, pois muitas empresas não têm similar que as obriga a melhorar a
qualidade dos seus produtos, e por isso vendem produtos de má qualidade e não
precisam de funcionários muito especializados ou com boa competência. Assim
muitas empresas contratam com salários baixos e de forma temporária ou
informal. Isto gera um círculo vicioso, com jovens sem formação adequada e sem
oferta de empregos que exijam uma boa formação para eles.
Esta situação coloca não só em risco a vida dos jovens, o
seu futuro, a possibilidade de ser independente financeiramente, ou de
sustentar e cuidar adequadamente de uma família; mas também, o futuro do país
que dependerá deles para se sustentar economicamente e crescer.
O Relatório afirma ainda que o principal fator negativo é a
baixa qualidade da educação básica. E é aqui que reside a grande oportunidade
para a Igreja: incrementar e ajudar a criação de mais pré-escolas e escolas católicas
de boa qualidade.
Tradicionalmente, as escolas surgem no Brasil a partir das
ordens religiosas como os jesuítas e os beneditinos, e mais recentemente, por
inciativa de muitas congregações religiosas que chegaram ao Brasil a partir do
século 19. O número destas escolas, porém, vem caindo nas últimas décadas, por
falta de alunos pagantes e também por falta de uma experiência religiosa viva e
contagiante para os jovens e seus pais. Esta crise das escolas católicas não é
só brasileira e acompanha a crise das congregações religiosas, sobretudo femininas
de vida ativa, no mundo.
Há, porém, um outro fenômeno que graças ao Espírito Santo
tornou-se, como disse o Papa São João Paulo II a “primavera da Igreja” e que
pode juntar-se às escolas e pré-escolas católicas que já existem e auxiliar na
educação dos jovens brasileiros; assim como na criação de empresas que
realmente visem o bem comum e produzam produtos competitivos e de boa
qualidade, não tendo o lucro máximo em curto período de tempo, como único fator
para o seu trabalho.
Esta nova realidade da Igreja está sendo formada por um
número crescente de comunidades de leigos e novas comunidades, ligadas ou não a
paróquias e que precisam do auxílio cada vez mais paternal e carinhoso de seus
pastores; quer na formação da fé como no consequente incentivo para viverem
conforme os costumes cristãos e a orientação da Doutrina Social da Igreja.
Há muitas experiências em outros países que podem servir de
exemplo para a criação de pré-escolas e escolas geridas por grupos de leigos
católicos. Há, por exemplo, cooperativas de famílias que compartilhando de um
mesmo ideal e preocupadas com a boa formação de seus filhos se reúnem e formam
escolas-cooperativas de boa qualidade. Ainda, existem países onde a legislação
permite uma combinação de duas fontes para a sustentabilidade da escola:
mensalidades pagas pelos pais com subsídio do governo, estadual e municipal. Isso
é bom para o governo que gasta muito menos do que com a gestão direta da escola
e bom para as famílias que podem gerenciar melhor a qualidade da educação dos
filhos. A pressão política para a criação de mecanismos legais, nesse último
caso, seria extremamente importante, e ao mesmo tempo, viável!
Jornal "O São Paulo",
edição 3196, 25 de abril a 2 de maio de 2018.
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