Francisco Borba Ribeiro Neto,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
A proposta
das Campanhas da Fraternidade é gerar uma reflexão e uma ação que aconteçam
também depois da Páscoa. Contudo, é inegável que a Quaresma é o momento mais
forte da Campanha. Assim, o período pascal também é um bom momento para nos
perguntarmos sobre o saldo em nossa vida dessa Campanha.
A vida
cristã é (ou deveria ser) um alegre caminho de contínua “correção de rota”
(conversão), para ficar cada vez mais perto Daquele que pode nos preencher
integralmente com seu amor. Alegre porque a correção não se resume à contrição
do coração pecador, mas se alarga como experiência da vida abraçada pela
Misericórdia, liberta de qualquer medo e capaz de saborear todo e encanto e
fascínio da existência que nos foi dada pelo Pai.
Essa percepção da vida cristã, tão característica da
Quaresma e da Páscoa, tem muito a ver com a Campanha da Fraternidade desse ano,
cujo tema é “Fraternidade e superação da violência”. A pobreza material, o
descuido e as injustiças da sociedade podem explicar muitos delitos e
contravenções que ocorrem em nossa sociedade. Mas a violência cresce
particularmente lá onde esses problemas levam ao medo e ao desamor.
A pessoa com medo se retrai assustada ou ataca com violência
procurando se defender. Aquele que não recebe amor não encontra nem recursos
nem motivos para construir a paz. Por isso, o destemor cristão, que nasce da
confiança e da esperança dos que se descobriram amados com um Amor tão grande
que supera a todas as adversidades, é o melhor caminho para se iniciar a
construção da paz em uma sociedade violenta.
Infelizmente, nesse período em que a Igreja nos chamava à
superação da violência, o povo brasileiro parece ter visto um aumento dessa
violência – ou, pelo menos, ela se tornou ainda mais evidente e chocante a
nossos olhos. Não podemos minimizar as causas estruturais e conjunturais desse
processo. A indignação com os escândalos políticos, a falta de recursos e de
assistência aos mais pobres, a perda de perspectivas de futuro devido à crise
econômica, a impunidade dos que cometem grandes crimes e o infortúnio dos que
cometem pequenos delitos, o confronto político mais acirrado devido à
proximidade das eleições. Tudo isso colabora para o aumento da violência.
Mas, justamente quando as esperanças humanas parecem mais
ilusórias é que a verdadeira esperança, aquela que vem com a descoberta do amor
de Deus, se torna mais importante e mais decisiva para mudar os caminhos do
mundo.
Qual é o saldo dessa Campanha da Fraternidade em nossa vida?
Movidos não pela militância ideológica ou pela ilusão ingênua, mas pela alegria
e liberdade dos que se reconhecem amados por Deus, nos tornamos mais capazes de
construir a paz, de levar o diálogo, de confortar os que sofrem e interpelar os
poderosos?
Esse é um tempo exigente para nosso testemunho cristão, um tempo
de graça para descobrirmos a força do amor de Deus em nossa vida e na
transformação do mundo.
Jornal "O São Paulo",
edição 3192, 27 de março a 3 de abril de 2018.
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