Ana Lúcia de V. Liberato, doutora em
Bioética pela Universidade Católica Portuguesa – Porto – Portugal – Enfermeira
Obstetra.
Cuidados Paliativos é o exercício do cuidar, onde o valor
central é a dignidade humana.
Resgata o
ser humano como ser bio-psico-sócio-espiritual e também a família é amparada
durante o tratamento e após a morte do paciente, no período de luto.
Quando
acontece a gestação de uma criança com curta perspectiva de vida, também aí
está um paciente que pode ser considerado em seu estágio terminal. Para falarmos
de Cuidados Paliativos em feto malformado, devemos pensar a Pessoa Humana em
toda sua Essência. A Pessoa Humana é sempre um ser único e
irrepetível, não reduzido à medida circunstancial do próprio homem, colocada no
centro dos valores morais.
Dignidade é
qualidade ligada à essência do Homem, mesma para todos, não dependente de seu
maior ou menor desenvolvimento, de sua saúde física ou psíquica; não é sinônimo
de autonomia pois se assim fosse, os indivíduos sem completa autonomia não
teriam dignidade alguma.
A genética comprova que no momento da
fecundação se forma uma novidade biológica e o embrião torna-se determinado e
individualizado em processo de formação contínuo; é um indivíduo humano,
merecendo o mesmo direito que se deve a todo homem. Diante desta realidade o
embrião/feto ou recém-nascido malformado devem ser considerados em seu valor
humano único, irrepetível e não relativizado conforme opiniões subjetivas.
Os Cuidados Paliativos
consideram o enfermo em toda sua dignidade humana e a morte como um processo
natural inevitável; o mesmo conceito é adequado e necessário também junto ao
feto em gestação ou junto ao recém-nascido condenado a pouco tempo de vida.
A mãe pode
ser o ambiente físico de oferta destes Cuidados Paliativos durante a gestação
ou pós parto. O suporte, tecnicamente competente, dará à Mãe, o apoio
psicológico e emocional que necessita neste momento existencial tão difícil.
Quando um
sofrimento inevitável se apresenta como limite da perfeição física ou do tempo
previsto de vida, a cultura atual propõe eliminar o sofrimento, eliminando sua
causa, mesmo que isto signifique abreviar a vida ou anular a existência daquele
a quem somos chamados a amar. A mentalidade do “direito ao filho perfeito” e a
cultura da qualidade da vida, conquistou na sociedade, espaço para o aborto
provocado como resolução desta situação no mundo ocidental, aparentemente como
uma conquista de direitos da mulher.
A
experiência vivida por tantos afirma ser possível um caminho de descoberta de
que “a própria vida tem sentido até o seu último suspiro” em qualquer
circunstância existencial, como afirma Frankl, porque sempre podem ser
realizados valores; para isso é fundamental convocar os serviços de profissionais
de saúde que exerçam sua função para além do tecnológico, colocando-se a
serviço da Pessoa em sua unidade existencial.
O convite à mãe para constituir-se como um Ser de Cuidados
Paliativos, propor a ela, a oportunidade de ser uma Unidade Amorosa dos
Cuidados Paliativos, inicialmente em si mesma enquanto gestante e depois, na
atenção que se fizer necessária após o parto, respeitando o binômio afetivo-espiritual
entre a mãe e seu filho traz a oportunidade de viver com seu filho enquanto ele
aí está, de elaborar gradativamente o luto e de evitar os riscos e
consequências de um aborto provocado para a mãe. E, sobretudo, edifica-se uma
sociedade menos utilitarista e mais verdadeiramente humana.
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