Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ana Lydia Sawaya é professora titular
de Fisiologia da UNIFESP - campus São Paulo e é conselheira do Núcleo Fé e
Cultura da PUC-SP.
O Papa Francisco tem ressaltado constantemente a importância
do diálogo para se chegar à verdade. É famosa sua frase “A verdade é uma
relação”. E na esteira do Concílio Vaticano II chama a atenção para um olhar
mais sinodal dentro da Igreja que muito bem se pode aplicar à relação entre
leigos, presbíteros e epíscopos.
Os últimos acontecimentos que relatam várias críticas de
leigos ao encontro das CEBs e à própria CNBB, veiculados nas redes sociais,
indicam a todos os que amam a Igreja e sinceramente desejam construí-la, a
urgência do diálogo.
A primeira coisa que se pode dizer é que os leigos que
gastam tempo (e dinheiro) e vem a público chamar a atenção sobre alguma
atividade da Igreja, se interessam verdadeiramente por ela. A segunda coisa que
se pode dizer é que para todos a caridade deve impelir a ação. Em primeiro
lugar aos mais velhos e mestres cabe buscar o diálogo, a acolhida ao desejo de
intervir, exortar, e até se pode dizer, de alguma forma, equivocada ou não,
corrigir. Por isso, é razoável que parta dos mestres e pastores um primeiro
movimento de acolhida e abertura.
Quando há fortes críticas, há algo a ser mudado,
aprofundado, ou mesmo, explicitado. Seria uma grande perda para a Igreja e seus
pastores a atitude defensiva ou superficialmente condenatória. A caridade ao
contrário, pede o encontro, a interação, a busca de diálogo. Só é possível o
verdadeiro diálogo para quem tem certeza que o único bom é o Senhor que através
do Seu Espírito nos guia a todos e conduz sempre a sua Igreja para o caminho da
verdade. Por isso, não há nada a temer!
A Igreja na sua longa tradição não ama as visões
hegemônicas, totalitárias, ou que não valorizam antes de tudo a pessoa, reconhecendo
o seu ser livre como imagem e semelhança de Deus. Por isso, a Doutrina Social da
Igreja dá precedência à pessoa em relação ao Estado. A encíclica Lumem Gentium lembra que “o Espirito
habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo: neles ora e dá
testemunho de que são filhos adotivos. Leva a Igreja ao conhecimento da verdade
total, unifica-a na comunhão e no ministério, dota-a e dirige-a com diversos
dons hierárquicos e carismáticos, e embeleza-a com seus frutos” (cap. I, 4).
E ainda, ressalta a importância de se reconhecer o sacerdócio comum existente entre os
presbíteros e os leigos: “Assim, todos os discípulos de Cristo, perseverando na
oração e no louvor de Deus, ofereçam-se também a si mesmos como hóstia viva,
santa, agradável a Deus; deem testemunho de Cristo em toda a parte; e, àqueles
que por isso se interessarem, falem da esperança que possuem, na vida eterna. O
sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, apesar de
diferirem entre si essencialmente e não apenas em grau, ordenam-se um para o
outro mutuamente; de fato, ambos participam, cada qual a seu modo, do
sacerdócio único de Cristo” (cap.II, 10).
Por fim, urge dizer que as redes sociais, embora sejam
instrumentos que facilitaram enormemente a difusão de informação e ideias, não
substituem o encontro pessoal e a dinâmica deste e, por isso, não são
instrumentos privilegiados para o exercício da comunhão e do diálogo dinâmico;
nem tampouco facilitam uma amizade operativa para construção de um caminho
comum.
Que as redes sociais não sejam uma armadilha que crie
divisão e suspeita mútua, mas uma pro-vocação a um caminho na caridade e, por
isso, verdadeiramente, eclesial! É o que exortamos a todos.
Jornal "O São Paulo",
edição 3192, 27 de março a 3 de abril de 2018.
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