Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ana Lydia Sawaya
É muito fácil para nós compreender a cruz de Cristo e os
acontecimentos da sua paixão, morte e sepultamento do que a sua ressurreição.
Os fatos descritos no Tríduo Pascal e na Semana Santa são visíveis, palpáveis,
carnais. Todos podemos ver Cristo que lava os pés dos discípulos, reparte o pão
e o vinho na última ceia, carrega a cruz, é flagelado e finalmente morre
crucificado. Podemos reviver e encenar todas estas passagens da vida de Cristo.
São visíveis e humanas!
Mas, e a ressurreição? Ninguém viu, nem há descrição alguma
de como foi. É um mistério grande e insondável!
Por isso também, a tradição da Igreja, sobretudo a tradição
barroca que mais deixou traços na história do Brasil, valoriza todo o
sofrimento e a morte na cruz na arte, nas imagens, nas Igrejas, nas procissões
e tantas outras formas de devoção. Mas, deixa a ressurreição de Cristo muitas
vezes na penumbra do invisível. Dessa forma, há uma hiper-valorização do
suplício de Cristo e uma sub-valorização da sua alegria vitoriosa na
ressurreição; quase de forma a afirmar que a Semana Santa é a semana em que se celebra
o sofrimento de Cristo para nós.
O grande evento de Cristo, ao contrário, e que precisa ser
realmente celebrado em 1° lugar e merece a mais alta importância, é o fato que
Ele ressuscita e que Sua ressurreição é a sua grande e última Palavra para nós.
É a sua ressurreição que devemos celebrar e não a sua crucificação! Esta
afirmação é tão estranha à nossa formação católica que sentimos até um certo
desconforto.
O que significa celebrar a ressurreição de Cristo e
coloca-la em 1° lugar como objeto principal da nossa fé como fala São Paulo?
Significa, sem dúvida, conhecer bem o seu significado e o seu dinamismo na vida
da Igreja. Cristo renasce PARA NÓS e EM NÓS.
Onde então devemos procurar ver a ressurreição de Cristo? Onde
ela é visível? No Espírito Santo. Precisamos aprender a reconhece-lo na vida da
Igreja e também fora dela no mundo onde há o bem, a verdade, a beleza e a
afirmação da vida. E isso só é possível, concretamente, se aprendermos a
invoca-lo e a reconhece-lo também em nós. O vê, quem o tem em si.
A ressurreição de Cristo é a introdução definitiva do amor
de Cristo em nós e no mundo. Quem busca o amor, quem o deseja e o pede, será
agraciado e o verá. Não há ninguém que o invoque sinceramente que não o
encontrará. O Senhor nos prometeu!
Por isso o Cristo ressuscitado também é visível. É uma
questão de educar o olhar; fruto de uma verdadeira educação da fé. Não podemos
parar no meio do caminho, e o tempo pascal não pode ser menos celebrado do que
a quaresma.
Nestes tempos de aborto, eutanásia, violência contra a vida,
desprezo dos mais pobres e refugiados, e por isso, em que um ser humano vale
tão pouca coisa, é preciso mais do que nunca que nos eduquemos a pedir o
Espírito Santo em nós. Quem quer que sejamos, mesmo se, no decurso dessa vida
mais parecemos tropeçar do que viver.
Pois Cristo ressuscita exatamente para exaltar a minha
pessoa no amor. Se Ele fez “tudo isso” por amor a nós, é a experiência do seu
amor em nós e por nós que o mundo mais precisa hoje. Cristo não ressuscita de
verdade, se não ressuscita em mim. Peçamo-lo como crianças!
Jornal "O São Paulo",
edição 3194, 12 a 17 de abril de 2018.
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