Elizabeth Kipman Cerqueira
Em caminho de progressiva autodescoberta e valorização, a
voz feminina vem se fazendo ouvir. O movimento de defesa da Mulher existe
porque existe a Mulher, com sua identidade, seu potencial, sua importância
insubstituível em qualquer sociedade ou cultura.
Mas, qual é essa identidade? Existiria uma raiz que identifica a Mulher?
Existem hormônios femininos no Homem e hormônios masculinos
na Mulher, entretanto isso não os torna idênticos biologicamente. Existem
qualidades predominantemente femininas e outras predominantemente masculinas a
serem desenvolvidas tanto no Homem como na Mulher, o que, também, não os
identifica psicologicamente. Razões biológicas e evolutivas atestam a necessidade
para que se desenvolvesse a predominância de qualidades em ambos de forma
diferente, pois não é indiferente que a função acolhedora da vida em gestação
(útero) e o papel nutricional (mamas) se cumpram na Mulher.
O recém-nascido humano é o mais imaturo entre os mamíferos; só
após muitos anos, poderá providenciar sua sobrevivência e essa vulnerabilidade constituiu
um marco para o salto evolutivo da espécie. Desde a época das cavernas, a
criança exigiu dedicação exclusiva por tempo prolongado e isso foi o pilar para
o processo de desenvolvimento humano: divisão de funções, cooperação para
manter a procriação, mola propulsora para a sociabilização e o desenvolvimento
da comunicação.
As mães dedicadas à sobrevivência de seus filhos
necessitaram de protetores e de provedores de alimento. Desde a pré-história, elas
se especializaram na criança, uma das tarefas mais dignas e transcendentes da história
de toda humanidade, o que nos permitiu estar aqui, hoje. Com a ajuda dos pais,
foram tão eficientes nesta tarefa que nossa espécie alcançou o mais alto índice
de recém-nascidos que conseguem chegar à idade adulta.
Agora, a organização social, política e econômica permite a emancipação
da mulher, a ampliação de sua realização pessoal e a prática independente da
afetividade e da sexualidade. Ainda vale a pena a maternidade? Não seria uma “volta
às cavernas”?
Clamam aspirações de tantas lutas de mulheres conhecidas e
anônimas: o desejo de liberdade para viver e deixar a impressão digital
insubstituível de cada Mulher na história.
Nesta busca de realização pessoal é indispensável descobrir
a si mesma. Ela, antes de tudo, necessita admirar a si própria, seu potencial
existencial – ESSA É A CHAVE PARA A GRANDE VIRADA.
À Mulher coube anunciar o apelo à transcendência ao abrir-se
ao cuidado como defensora da vida gerada. A condição gregária do ser humano
teve origem principalmente nas mães. Esta maravilha, fonte do crescimento da
humanização, não pode ser motivo de opressão, obstáculo ao seu desenvolvimento,
em sociedades de qualquer cunho político.
Hoje, ante a pressão que conclama ao individualismo, ao
descarte fácil dos relacionamentos e, sobretudo, diante da pressão que
desvaloriza o próprio potencial de fecundidade, os desafios não se resumem
apenas ao econômico ou à necessidade de realização profissional. Correntes
radicais na luta pela igualdade de direitos para homens e mulheres entendem ser
necessário que a Mulher se liberte da própria maternidade.
Entretanto, com filhos biológicos ou não, a Mulher tem o dom
de gerar que o Homem não tem. Ela é sempre Mãe em sua constituição porque tem a
sensibilidade primeira para reconhecer o dom da vida e, por isso, ensinar
também ao Homem, como se respeita a Vida. Todas as tarefas sociais cabem a
ambos, porém se as diferenças forem ignoradas, decretamos não existir a Mulher.
A correção do erro histórico de sua submissão, consequente à pretensa
superioridade masculina, não supõe inverter a supremacia opressora anterior ou
em anular as diferenças, mas em reconhecer o específico valor de ambos. Se dela
for retirado seu olhar de amor e de acolhimento, coloca-se em risco a sua
identidade e o próprio valor gregário que leva a sociedade a proteger o mais
vulnerável. Se politicamente o fizermos, desenvolveremos o caminho contrário à
construção e ameaçamos a própria sobrevivência da humanidade.
Nossa História se faz vivendo e acolhendo a Vida: a Mulher é
a maravilhosa líder desse caminho ao afirmar a grandeza de seu potencial à
maternidade – da vida considerada em seus múltiplos aspectos, não apenas na
geração de filhos em seu ventre - convocando o Homem a assumir sua
responsabilidade à paternidade, igualmente da vida considerada em seus
múltiplos aspectos. A primeira impressão digital insubstituível de cada Mulher
é clamar que VALE A PENA GERAR!
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