Elis Lavanholi é bacharel em Tradução
- Línguas Inglesa e Espanhola.
A paixão pela liberdade é um aspecto muito positivo da
cultura contemporânea. Afinal, se não fôssemos livres, não poderíamos amar. A
liberdade, bem orientada, revela o melhor de cada um de nós.
Porém, a cultura contemporânea é também influenciada por
correntes de pensamento que confundem a liberdade com uma espécie de impulso
arbitrário. A lógica é simples: o prazer nos satisfaz, é útil; devemos honrar
nossos desejos, pois somos livres.
Porém, é preciso refletir sobre as consequências das
escolhas na vida pessoal e na vida social, pois o ser humano vive em sociedade.
E nesse contexto de valorização da liberdade – mesclada com as máximas do
individualismo e do hedonismo - alguns
temas presentes no debate público ganham contornos polêmicos e polarizados. Tudo
depende da noção de liberdade de escolha.
Afinal, a liberdade
de escolha é soberana?
As pessoas, de modo geral, baseiam suas opiniões e escolhas
nas informações disseminadas pela grande mídia. Os meios de comunicação,
contudo, tendem a retratar os assuntos – quaisquer que sejam as suas nuanças - a
partir de uma perspectiva dualista, binária e simplória: liberal versus conservador, flexível versus intolerante, vítima versus opressor. Além de inconsistentes,
tais dicotomias negligenciam aspectos fundamentais para o entendimento da realidade.
Constata-se, por exemplo que no debate de temas como o aborto,
o soberano argumento da “liberdade de escolha” desqualifica antecipadamente posições
contrárias, como se essas fossem de per
si intolerantes ou fanáticas. Os mais prejudicados por essa pobreza de argumentação
são as próprias mulheres, até mesmo adolescentes, que carecem de informações
precisas para tomarem decisões melhor fundamentadas, não precipitadas. As
consequências físicas e psíquicas do aborto, para a mulher que o pratica, estão
documentadas. O peso da cultura machista, o abandono, que pressiona e induz ao
aborto, é fato notório, reforçado e facilitado pela legislação permissiva do
aborto. A morte de seres humanos inocentes é real. Porém, não há debate.
Outro exemplo ilustrativo é a discussão atual sobre pessoas transgêneras
– i.e., que não se identificam com seu sexo biológico. Por um lado, há o
argumento de que o indivíduo é livre para decidir o que fazer com seu corpo. Porém,
a Universidade John Hopkins (Boston), que há vinte anos foi pioneira nessas
cirurgias abandonou a prática. Por quê?
As mesmas trazem consequências físicas e psíquicas irreversíveis, e os
distúrbios emocionais anteriores não eram aliviados por elas. Constatou-se alto
índice de suicídio entre as pessoas que a elas se submeteram. Além disso, em se
tratando de crianças, pesquisas científicas apontam que a maioria daquelas identificadas
com “disforia de gênero” não continuam com o transtorno após a puberdade. Tais
pesquisas e experiências mereceriam entrar no debate, mas de fato não é assim.
Tudo se simplifica com o respeito à “liberdade de escolha”, inclusive a
infantil. Será mesmo livre uma escolha tão mal informada? A sábia sentença
evangélica adverte: “a verdade vos fará livres”.
Em suma: esquivar-se de pensar e prescindir da análise das
consequências pessoais e sociais de uma escolha significa não desejar - de fato
– a liberdade, e sim o exercício de um mero arbítrio irrefletido.
Verdade e liberdade
A verdadeira liberdade pressupõe o acesso a informações e a
oportunidade de uma reflexão fundamentada e ponderada sob os diversos ângulos, tão
ricos, que a realidade humana oferece. A dignidade inerente à pessoa humana só
é assegurada levando-se em conta seus aspectos biológico, psicológico, social e
espiritual. E só seguindo essa pista a legislação poderá efetivamente promover
o “bem comum”, isto é, aquele conjunto de
condições que permitam e favoreçam o desenvolvimento integral da pessoa humana.
São João Paulo II em sua memorável encíclica Fides et Ratio convidava todos a
refletirem profundamente sobre o homem, e sobre a sua busca constante de
verdade e de sentido. Só neste horizonte
da verdade – dizia o Papa - poderá compreender, com toda a clareza, a
sua liberdade e o seu chamamento ao amor.
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