Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ana Lydia Sawaya é professora da UNIFESP, fez doutorado em Nutrição na Universidade de Cambridge. Foi pesquisadora visitante do MIT e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Basta, meu Deus, basta de tanto sofrimento! Este artigo tem
a finalidade de pedir a você leitor para rezarmos juntos pelos refugiados. Calcula-se
que sejam 60 milhões de refugiados. Um número ímpar, mesmo em relação à Segunda
Guerra Mundial. Peçamos a Deus, todos juntos, para que Ele acabe com o sofrimento
de tantas famílias de refugiados! Desfilam-se diariamente diante dos nossos
olhos, nos jornais, fotos de crianças, mulheres, homens jovens, idosos que
pagam o preço de uma casa, um carro, para serem transportados por traficantes
para a Europa. Perderam tudo, deixaram trabalho, deixaram muitas vezes parentes
mortos brutalmente.
Em número já incontável de vezes, lemos que os traficantes
de pessoas os abandonam em barcos à deriva, ou eles mesmo afundam os barcos no
meio da travessia. Outras vezes, os barcos soçobram durante o resgate por serem
muito frágeis e estarem superlotados. Li sobre uma náufraga que não conseguiu
sobreviver que, ao ser retirada do mar, foi encontrada com o terço na mão. Pensei
que só pode ter havido festa no céu quando ela chegou lá, pois nós cristãos sabemos
o fim dos injustiçados deste mundo, que Cristo quis, misteriosamente, abraçar
carregando-os consigo na cruz.
Os jornais relatam ainda que o número de mortes tem
aumentado porque se tem elevado as medidas de repressão por parte dos países
europeus. A Hungria está construindo um muro na divisa da Sérvia para impedir
sua chegada. Mais de um milhão dos que conseguiram chegar à Europa foram
expulsos. Alguns países europeus têm colocado soldados armados que agem
violentamente contra famílias com crianças de colo que chegam ao seu
território. Mesmo no Brasil, a vinda dos haitianos, após o terremoto que
devastou o seu país, tem encontrado muitas hostilidades. Recentemente alguém
atirou em vários deles.
A Europa envelhece, falta mão obra, o número de nascimentos
só diminui com o maciço controle de natalidade. O número de europeus encolhe a
cada ano. A Europa precisa de imigrantes para financiar aposentadorias e
permitir boa condição de vida para seu número crescente de idosos. Análises
econômicas mostram as vantagens de ter mão de obra baseada na imigração. Por
que então não organizar um fluxo migratório de famílias cujos países estão
enfrentando guerras loucas, cruentas, e sem sentido? Assim fez o governo de São
Paulo no início do século 20, quando chegaram aqui, de forma relativamente organizada,
cerca de 6 milhões de imigrantes europeus. Esse quadro revela o quão grande é o
egoísmo e a visão mesquinha do velho continente. A ONU tem pedido
insistentemente para os países da União Europeia receberem os imigrantes, feito
propostas e exortado esses países a se organizarem. As políticas de aumento de
repressão aos imigrantes só tem aumentado o número de traficantes de pessoas, o
seu ganho e a crueldade do processo.
O que nós, brasileiros, que vivemos tão longe
geograficamente dessa tragédia humana, podemos fazer? O Brasil, por meio da Cáritas
e outras organizações, tem procurado dar sua contribuição na acolhida a estes
refugiados e nós, caro irmão, podemos fazer uma fundamental: rezar. Podemos
pedir ao Senhor que, na Sua infinita misericórdia, mude a sorte de tantos
refugiados, abra espaço para eles. Podemos pedir que este mal do nosso tempo
termine. Podemos pedir que Nossa Senhora interceda pelos europeus e "co-mova" o
coração de pedra dos cristãos da primeira hora. Que o povo europeu pressione os
seus governos para abrir as portas, colocar mais água no feijão, e não para
aumentar as barreiras como tem acontecido. O Senhor responderá a quem pede com
insistência e comunitariamente.
Jornal "O São Paulo", edição 3067, de 09 a 16 de
setembro de 2015.
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