Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Antonio Carlos Alves dos Santos é professor titular de Economia na Faculdade da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
O anúncio do contingenciamento do Orçamento para 2015
deveria ter sido um momento para reafirmar o compromisso da atual administração
com o ajuste fiscal, mas aconteceu exatamente o contrário: a ausência do
Ministro Levy, em razão de uma alegada gripe, criou ruídos desnecessários que
acabaram chamando mais a atenção que as próprias medidas anunciadas.
É sempre bom lembrar que o Ministro Levy mal começou o longo
e difícil processo de recuperação da credibilidade da política econômica
brasileira. Sem ele este processo será
muito difícil, para não dizer impossível. Pior ainda: levaria o mercado a impor
a sua própria versão de ajuste fiscal com custos sociais superiores aos deste
que está sendo negociado pelo governo Dilma.
Um país que passa por um momento econômico extremamente
delicado, como é o nosso caso, requer da sua classe dirigente um comportamento
menos autocentrado e mais focado no bem comum. Infelizmente a revisão do fator
previdenciário e as difíceis negociações em torno de medidas que alteram a
regra para o direito à pensão por morte e os critérios para o acesso a benefícios
trabalhistas demonstram o apego a velhas e equivocadas políticas populistas,
cuja conta acaba sempre sendo paga pela população de baixa renda.
Os dados macroeconômicos recentes confirmam o que já estamos
cansados de saber a respeito das tentadoras políticas econômicas populistas,
mas que infelizmente insistimos em ignorar: a bonança inicial cobra um custo
social elevado quando se torna impossível ignorar a fragilidade dos seus
fundamentos econômicos. É exatamente isto que estamos presenciando no Brasil,
com o aumento da taxa de desemprego, queda de renda, fragilidade fiscal e
problemas no setor externo, para não mencionar inflação bem acima da meta.
Esse cenário desolador dificilmente será revertido no
segundo semestre, ou seja: a oferta de emprego continuará anêmica e a taxa de desocupação
continuará subindo. Somente a inflação é que deverá apresentar melhoras, mas
mesmo assim deverá fechar o ano em torno de 8%.
O setor externo também deverá continuar patinando, com a balança
comercial refletindo a falta de uma política realista para o setor que
requereria, por exemplo, maior abertura às negociações com a União Europeia e
os Estados Unidos, e isso requer somente maior pragmatismo do governo
brasileiro em relação aos parceiros do Mercosul.
O cenário poderá tornar-se ainda mais difícil, se a versão
final do ajuste fiscal o tornar ainda mais limitado do que a versão apresentada
na semana passada: o corte nas despesas
ficou muito abaixo dos 6% inicialmente propostos; a promessa de gastos
equivalentes aos de 2013 foram, aparentemente, deixadas para as calendas. Já o cenário róseo, marca registrada do
primeiro governo Dilma, se fez presente com a expectativa de aumento de
arrecadação de impostos, quando o que se verifica é justamente o
contrário. De esperado somente o
inevitável corte dos investimentos, em razão do conhecido engessamento do
orçamento brasileiro.
Em síntese, não se deve esperar melhoras significativas no
cenário econômico brasileiro antes do próximo ano, isto se tudo sair como manda
o figurino. E por isto recomendo ao caro
leitor evitar assumir compromissos financeiros que não sejam realmente
essenciais. O momento requer cautela e uma administração das despesas da família
ainda mais cuidadosa que as que já nos habituamos a fazer nos tempos de vacas
magras em nosso país.
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