Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Luís Henrique Piovezan estudante de
Teologia pelo Claretiano e engenheiro civil, ministro extraordinário da Sagrada
Comunhão na Paróquia de Santa Joana d'Arc.
Desde o Concílio Vaticano II, o leigo cresce em destaque na
Igreja. Como diz o Decreto Apostolicam
Actuositatem, de Paulo VI (1965): “os
nossos tempos, porém, não exigem um menor zelo dos leigos; mais ainda, as
condições atuais exigem deles absolutamente um apostolado cada vez mais intenso
e mais universal” (AA,1).
Por outro lado, ainda há alguma confusão no termo leigo, que
os torna passivos. Até meados do século XVIII, o povo era constituído de
pessoas sem conhecimento formal. Poucos sabiam ler. Por isso, com o tempo,
associou-se o termo leigo às pessoas sem conhecimento. Tanto foi associado, que
este significado do termo saiu da esfera eclesial e se expandiu para todas as
áreas profissionais. Quem não entende ou não tem educação formal em um assunto
é, atualmente, chamado de leigo.
Em grego, o sentido original da palavra leigo é a pessoa do
povo. Assim, o leigo não é aquele que não sabe ou deve ser tutorado, mas aquele
que é parte do povo, que dele vive e participa. O Ano do Laicato é o ano da
ampliação da participação do povo na Igreja. É o ano de se pensar em uma
participação maior do leigo não só na Igreja como no mundo.
Esta participação, porém, não pode ser apenas uma imitação
dos clérigos. Tendência natural é achar que a participação do leigo seja apenas
a atuação dentro de uma paróquia ou a consagração da vida a Deus, abandonando a
vida material e mundana. Pelo contrário, Paulo já alertava para um
espiritualismo excessivo (cf. 2Ts 3,10). A vida espiritual deve ser paralela a
uma vida material. Não uma vida de materialismo, mas uma vida material que se
paute pela mensagem, pela espiritualidade e pelo exemplo.
Jesus não envia apenas Doze Apóstolos para pregar, mas dá a
missão a setenta e dois discípulos (cf. Lc 10,1-20). São “outros discípulos”.
São seis pessoas para cada tribo, para cada Apóstolo. Com cada Apóstolo, formam
uma equipe de sete pessoas, o número da perfeição. É sinal que a pregação e a
ação para o bem não são responsabilidade apenas dos Apóstolos, mas de todos os
que creem.
Assim, o leigo deve ser sal da terra e luz do mundo (Mt
5,13-16). O leigo é para o mundo, principalmente como exemplo (1Pe 2,12). Ele é
luz! Desta forma, o leigo não deve se preocupar em buscar um cargo na paróquia,
na pastoral ou seguir um grupo de consagrados. Deixa de ser leigo para começar
a ser clérigo, imitando sua vida. Ele pode até agir numa pastoral, mas seu
papel se traduz na vida cotidiana, em seu trabalho, em sua cidade e em sua
família. Enfim, luz para o mundo.
Nesta visão mais ampla do leigo, ele não pode se isolar
dentro de uma paróquia ou de um grupo religioso. Não deve deixar o mundo para
focar-se apenas na contemplação de Deus. Como o bom samaritano (cf. Lc
10,25-37), deve procurar ajudar os que estão feridos na estrada. Deve deixar as
preocupações com pureza sacramental para socorrer o necessitado que surge em
seu caminho.
É claro que as paróquias precisam de pessoas que ajudem e a
Igreja também necessita de pessoas consagradas. Mas também precisa de leigos
com conhecimento para que possam realizar sua missão no mundo (DAp 210). Isto
cria um desafio para o clero e para os leigos: a formação dos leigos (DAp 211).
Esta formação não pode ser apenas a apresentação da doutrina, numa mão única do
clero para o leigo, como se o clero devesse ser o detentor do conhecimento
doutrinal. A formação do leigo começa pelo diálogo.
Jornal "O São Paulo", edição 3185, 7 a 13 de
fevereiro de 2018.
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