segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O ecumenismo na crise brasileira atual

Ilustração: Sergio Ricciuto Contewww.sergioricciutoconte.com.br
Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do 
Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

Diante da gravidade da crise política, econômica e social que o Brasil atravessa, é natural que as comunidades cristãs se interroguem sob o que fazer, como responder à situação. Num momento como este, o ecumenismo é chamado a mostrar uma outra face, infelizmente pouco reconhecida e divulgada entre nós: não só buscar a necessária e justa unidade entre as diversas denominações cristãs, mas ser também um espaço onde os cristãos em unidade lutam pela construção do bem comum.
Nesta hora, alguns fios condutores que unificam a visão de mundo de todos aqueles que fizeram a experiência do encontro com Cristo são particularmente significativos. Por exemplo, a percepção de que nenhum sistema político poderá construir um mundo melhor sem a ação decidida de pessoas justas e integras. Não há bem comum estável e verdadeiro sem o compromisso moral com a verdade e a justiça. Mas também a percepção de que o bem comum não depender da vontade de quem está no poder, mas tem que ser fruto do esforço e do compromisso solidário de cada um. A falta de solidariedade e de compromisso com a sociedade é um pecado de nossas “elites” que sem dúvida tem muito a ver com nossas mazelas atuais.
A tensão para manter um compromisso ético e pessoal com a verdade, a justiça e a solidariedade é um ponto em comum que unifica a todos os que seguem a Cristo com sinceridade. Cada cristão sincero pode ser mais ou menos capaz de corresponder a este desejo de fidelidade, mas todos se reconhecem neste ideal. Curiosamente, esta parece ser também a característica que o povo brasileiro mais deseja ver em seus dirigentes – e que parece ver muito poucas vezes neles.
Como transformar esta tensão ideal num caminho concreto de construção da vida social e da política? Este é um desafio “ecumênico”, que – para o bem dos brasileiros – deve ser respondido de forma conjunta por todos os cristãos.
Os velhos – e este que escreve estas palavras se considera um deles – sabem destas coisas. Mas muitas vezes se esquecem delas, ou perdem o impeto para se jogarem no mundo a partir delas. Por isso precisam estar perto dos jovens, atentos a eles e à energia juvenil com que se lançam na procura pela verdade e a beleza da vida.
Por tudo isso, um evento particularmente significativo está para ocorrer neste início de ano na PUC-SP. Um grupo de jovens da Aliança Bíblica Universitária (ABU) iniciaram uma bela amizade com assessores da Coordenadoria de Pastoral Universitária. Desta amizade, vivida sem dúvida num clima fraterno e numa busca compartilhada por Cristo, nasceu o desejo de realizarem juntos uma reflexão sobre a situação política atual.
Assim, estão realizando a mesa redonda “As contribuições do Cristianismo em meio a atual crise socioeconômica e política – uma perspectiva ecumênica”, que acontecerá no dia 25 de fevereiro de 2016, a partir das 19h30, na PUC-SP (Rua Monte Alegre, Nº 984, auditório 239). O tema será abordado pelos professores Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da FAAP, Paul Freston, professor da Wilfrid Laurier University (Canadá), e Jonas Madureira, professor da Faculdade Teológica Batista em São Paulo.
Este encontro pode ser uma bela ocasião para que estudantes e profissionais de todas as idades, cristãos de todas as denominações e mesmo não cristãos, possam fortalecer um caminho de unidade para a construção de um Brasil melhor. Uma contribuição importante dada pela PUC-SP, que assim reafirma seu caráter católico – mas por isso mesmo aberto a toda a comunidade cristã e a todos os homens de boa vontade.
Jornal "O São Paulo", edição 3089, 17 a 23  de fevereiro de 2016.




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