quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A Igreja diante do desafio do envelhecimento

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Ivanaldo Santos é doutor em filosofia e professor do Departamento de Filosofia do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN.

Atualmente, a sociedade presencia um dos fenômenos mais surpreendentes da história da humanidade. Trata-se do envelhecimento da população. O ser humano vive cada vez mais. A longevidade já não é mais uma exceção, mas uma experiência real. Apenas para ser ter uma dimensão da questão da longevidade, atualmente no Japão já é possível se viver entre 100 e 104 anos. A perspectiva é que uma criança nascida na Alemanha, a partir de 2016, viverá mais de 100 anos.
No entanto, em grande parte da história da humanidade poucos indivíduos chegaram à casa dos 60 ou 70 anos. Por exemplo, uma mulher no século III d. C., no período da decadência do Império Romano, com 18 anos já tinha 3 ou 4 filhos, com 30 anos, essa mesma mulher, provavelmente já tinha netos, era considerada velha e estava se preparando para morrer. Esse fato não é isolado. Ele se repetiu por quase toda a história universal.
A partir do século XVIII, por diversos fatores históricos, lentamente a média de vida vai aumentando. Passou-se de 30 anos para 40 ou 50 anos. Ao final do século XX, nos países desenvolvidos, esse aumento chega a uma média de 75 a 80 anos. Em muitas regiões vive-se, com facilidade, 90 ou 100 anos.  Além disso, a ciência está anunciando uma nova geração de remédios, o fim de várias doenças, a cura para doenças que, até o momento, são incuráveis, as empresas privadas e os Estados estão anunciando novos benefícios para a população. Com tudo isso, a expectativa é que a média de vida da população do planeta aumente para quase 110 anos.
É a primeira vez na história da humanidade que, de forma geral, a população poderá viver 100 anos ou até mais tempo. Estamos diante de uma grande revolução no campo da longevidade. No entanto, essa ótima notícia traz uma série de problemas para serem enfrentados, como, por exemplo, o problema da previdência e da aposentadoria, a questão do emprego para as novas gerações, reformas profundas na infraestrutura urbana, novo modelo de educação e leis que protejam a pessoa idosa.
Dentro desse debate emerge, com força, o papel da Igreja Católica. Em todo o mundo a Igreja tem sido uma grande protagonista na defesa, na promoção e na proteção da dignidade da pessoa idosa. Por meio da Pastoral da Terceira Idade e de outros organismos eclesiais, a Igreja tem promovido um processo de inclusão social e tem sido um espaço de acolhimento da pessoa idosa.
No entanto, é necessário ter consciência que os desafios e problemas causados pela longevidade não serão resolvidos apenas, de forma isolada, pelo Estado, por algum partido político ou outra organização social. Neste contexto, a Igreja é convocada a ser a mãe e gestora de políticas e ações que possam garantir a dignidade da pessoa idosa. A primeira grande ação da Igreja é promover – coisa que já acontece – a participação da pessoa idosa dentro da Igreja. Essa participação poderá acontecer, por exemplo, por meio das pastorais, de peregrinações a santuários e muito mais. A segunda grande ação é a Igreja ser a instituição que promova a educação para o envelhecimento, um novo modelo de educação que, desde a criança, prepare o cidadão para os desafios e os benefícios do envelhecimento. Não basta envelhecer. É necessário saber envelhecer, ter um projeto de vida que leve em consideração que, em tese, poderá se chegar a viver mais de 100 anos. Neste caso, o que se fazer com a vida? Nas próximas décadas a Igreja deverá ajudar aos cidadãos e a humanidade a encontrar uma saudável resposta para essa pergunta. 
Jornal "O São Paulo", edição 3138, 15 a 21 de fevereiro de 2017.

Um comentário:

  1. Trata-se de um tema importante que teria muito a ganhar com referências mais concretas à Carta aos Anciãos de São João Paulo II.

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