Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Marcos Gregório Borges é filósofo e um dos fundadores do grupo Coração Novo para um Mundo Novo dedicado ao trabalho integrado entre movimentos e novas comunidades na perspectiva de uma maior presença cristã na vida pública. Participa como colaborador nas atividades do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Num discurso proferido em 22 de novembro de 2014, voltado
aos participantes do III Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais e Novas
Comunidades, o Papa Francisco apontou alguns elementos que devem permear a
caminhada daqueles que estão inseridos nestas novas realidades, às quais,
segundo o Santo Padre, caminham para uma fase de “maturidade eclesial”: manter
o frescor do carisma original, respeitar a liberdade das pessoas e buscar a
comunhão eclesial.
Francisco lembrou que a novidade trazida por estas realidades
não consiste tanto nos métodos e formas utilizados, mas antes “na disposição de
responder com renovado entusiasmo ao chamado do Senhor”, entusiasmo sem o qual sequer
existiriam, como demonstra a história de suas fundações. Desta forma, não se
pode, lembra o Papa, cair na tentação de fiar-se em “esquemas tranquilizadores,
mas estéreis”.
O Santo Padre apontou também para o desafio da comunhão
eclesial. No entanto, não se ateve apenas a chamar a atenção para o sempre
necessário esforço de conversão pastoral em vista da unidade com a Igreja
hierárquica, integrando plenamente a vida da comunidade dentro da vida da
Igreja, mas abordou outro aspecto importante que decorre da unidade: a comunhão
para responder as questões mais sensíveis da sociedade de nosso tempo.
Segundo Francisco, “os movimentos e comunidades são chamados
a trabalhar em conjunto para ajudar a curar as feridas causadas por uma
mentalidade globalizada que coloca o consumo no centro, esquecendo-se de Deus e
dos valores essenciais da existência”. Como um bom pastor, o Papa não apontou
soluções prontas, mas apenas o caminho que considera adequado, na certeza de
que os movimentos e novas comunidades, se forem capazes de manter o vigor
próprio do carisma originário, possuem criatividade para responder a este
desafio de forma nova.
Neste novo tempo, chamado pelo próprio Sumo Pontífice de
“tempo de maturidade eclesial”, cada movimento e nova comunidade é convidado a
uma experiência de abertura à diversidade de carismas, partilhando de seus dons
com os demais e acolhendo a riqueza existente em cada realidade, em um caminho
de autêntica e fecunda comunhão fraterna que possibilite o surgimento de novas
e verdadeiras amizades.
Assim como cada carisma específico só pode desenvolver-se a
partir da comunhão de um grupo mínimo de pessoas em torno de um objetivo em
comum (ou seja, não basta existir o fundador se não existirem pessoas em
comunhão com ele em torno daquele objetivo), não é possível a construção de
iniciativas em comum, como nos aponta o Papa, se não existir verdadeira
comunhão entre os carismas, e esta não pode ser construída a partir de meras
reuniões e iniciativas estratégicas, mas sim a partir de um verdadeiro caminho
de amizade, do qual nasce a confiança necessária para trabalhar com o outro em
torno de um objetivo em comum.
Desta forma, neste novo tempo, peçamos ao Espírito Santo que
alargue os nossos corações, e nos dê a coragem para avançarmos para águas mais
profundas, nas águas profundas da diversidade dos carismas existentes, sem medo
de acolhermos o novo que Deus quer nos dar a partir do dom da unidade.
Jornal “O São Paulo”, edição 3034, de 14 a 20 de janeiro de 2015.
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