Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Ricardo Gaiotti Silva é advogado, juiz eclesiástico no Tribunal Interdiocesano de Aparecida, mestrando em Filosofia do Direito pela PUC-SP e mestrando em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade de Salamanca - Espanha.
Extraordinariamente há uma unanimidade política no Brasil, estamos
em crise!
Como consequência existe um anseio em encontrar rapidamente
o culpado, mas enquanto o “Judas” não aparece todos nós ficamos inseguros com o
futuro do nosso país, um exemplo é o fato de que, poucos meses após as eleições
um numero expressivo de brasileiros desejam o impeachment. Essa instabilidade
respinga em todos os setores, quer sejam políticos, econômicos e sociais, sobrando
até mesmo para a democracia, tal dolorosamente conquistada pelos brasileiros.
Um fator positivo disso tudo é que a consciência
política/social da população está amadurecendo pois, desde aqueles que precisam
dos programas sociais do governo para alimentarem seus filhos até os que possuem
capital na bolsa de valores, todos têm refletido buscando encontrar o foco dos
problemas.
Alguns acham que se trata de um problema moral, tendo como
ponto central a canalhice dos agentes públicos. Outros atribuem a uma questão
cultural, justificando que desde da colonização somos a pátria do jeitinho.
Há quem crê que a raiz dos problemas seja a educação, pois
grande parcela da população brasileira possui baixa formação intelectual,
ocasionando que, seduzidos por programas sociais e midiáticos, acabam elegendo
mal seus representantes. Existem ainda aqueles que estão convencidos que se
trata de um problema político, no qual a solução seria uma verdadeira reforma
política, que afetaria diretamente a maneira na qual hoje é exercida a
democracia.
Uma coisa é certa: A maioria pode errar! A democracia pode
ser injusta!
Sem dúvida a democracia “é o instrumento histórico mais
válido, se for usado bem, para dispor responsavelmente do próprio futuro de
maneira digna do homem”, já afirmava o Papa Bento XVI. Porém, ela deve ser
exercida com responsabilidade e ancorada em valores que estão além da vontade
da maioria.
A responsabilidade do exercício da democracia pode ser vista
ao curso da história, onde se evidencia tanto a sua eficiência como a
ineficiência. Há casos absurdos como a legitimação de regimes totalitários, aprovações
de leis que restringem direitos fundamentais, tudo isso, aprovados por meio da
maioria. Por outro lado, há exemplos positivos, onde a voz da maioria foi uma
verdadeira sinfonia, destaca-se as solidificações jurídicas dos direitos
humanos.
Sem dúvida, os graves problemas vividos nas democracias, são
motivados pelo afastamento progressivo das sociedades das verdades fundamentais,
essas que devem nortear todo o agir humano e social, pois "num mundo sem
verdade, a liberdade perde o seu fundamento, a democracia desprovida de valores
pode perder a própria alma”, como ensinou o Papa São João Paulo II.
Portanto, se queremos um país melhor, se não queremos uma
democracia sem alma é preciso termo a plena consciência que “a democracia só
poderá florescer, se os líderes políticos e as pessoas por eles representadas,
forem orientados pela verdade e recorrerem à sabedoria derivada de um princípio
moral firme nas decisões relativas à vida e ao futuro da nação” (Discurso do Papa
Bento XVI na Casa Branca em visita aos EUA).
Jornal “O São Paulo”, edição 3055, de 10 a 16 de junho de
2015.
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