Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Gestão eficiente do Estado e estabilidade econômica ou
políticas sociais voltadas aos mais pobres e à igualde social? Os dois – e sem
corrupção ou demagogia. Este é o “recado” claro que os eleitores têm dado aos
candidatos a presidente nos últimos meses.
A desilusão com a polarização PT/PSDB é bem ilustrada pela ascensão
eleitoral de Marina Silva, quer ela corresponda ou não a estas expectativas
caso eleita. A luz amarela está acesa para o PSDB e também para o PT (mesmo que
Dilma ganhe a eleição). O que está dando errado para estes partidos?
O PSDB, após o inegável sucesso do Plano Real, fracassou em
suas tentativas de conquistar o eleitorado mais pobre e ficou identificado como
um partido mais interessado com a eficiência da máquina pública e o crescimento
econômico. A avaliação pode não ser justa, mas o eleitor precisa de sinais
visíveis da solidariedade dos governantes – e aí o PSDB vem falhando no cenário
nacional.
O PT apostou na inclusão econômica dos mais pobres para garantir
seu sucesso político. Não se deu conta que o desenvolvimento social criava um
cidadão mais esclarecido, mais consciente de seus direitos, mais atento e
indignado com os escândalos de corrupção. A partir do trabalho do partido,
temos mais beneficiados com programas de transferências de renda, mas agora a
economia parou de crescer e põe em risco os ganhos destes que progrediram na
vida; mais médicos, mas nem por isso melhor atendimento à saúde; mais dinheiro
para a educação, mas só depois que o petróleo do Pré-Sal começar a dar lucro.
Seguimos com Dilma ou Aécio? Arriscamos na nova política de Marina
ou em outro candidato? Teremos que fazer em breve uma escolha, mas isso não
basta.
Existe um desejo de cidadania, participação na construção da
sociedade e respeito à dignidade da pessoa. Algumas vezes se manifesta com
violência em manifestações de rua, outras como desencanto e frustração impotente,
remoída na poltrona em frente à TV. Para muitos se oculta num conformismo quase
cínico.
Este desejo deve ser recuperado e valorizado como energia
para a construção do futuro, seja lá quem ganhar as eleições. O Brasil conta
com organizações sociais, empresários, homens públicos e trabalhadores capazes
de atuar a partir deste desejo, com um verdadeiro protagonismo, construindo o
bem comum.
É preciso valorizar o protagonismo das pessoas na vida
social e econômica, mas dentro de uma postura solidária de construção do bem
comum. Sem solidariedade, particularmente para com os mais fragilizados na
sociedade, este protagonismo se perderá na busca por interesses particulares.
Assim como a solidariedade, sem protagonismo da pessoa, gera assistencialismo.
A combinação de protagonismo e solidariedade exige um Estado
eficiente na gestão das políticas públicas e da economia, que não seja
autoritário ou centralizador, mas se coloque a serviço da capacidade das
pessoas e das associações de construir o bem comum. Um Estado que a doutrina
social da Igreja chama de subsidiário.
Jornal “O São Paulo”, edição 3017, de 3 a 9 de
setembro de 2014.
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