Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
Nas últimas semanas, reportagens sobre festas que acontecem
dentro de grandes universidades paulistas, onde até estupros ocorreram,
chocaram a opinião pública.
O problema não é novo: violência e até mortes já foram
amplamente noticiadas em recepções a calouros, o consumo de álcool e drogas nos
ambientes universitários também é bem conhecido – sendo até alvo de debates
sobre a liberação ou não da maconha.
Choca, contudo, o fato de que num local onde teoricamente
estão os jovens mais promissores e bem preparados, aqueles que mais receberam e
dos quais portanto mais se espera, aconteçam manifestações de verdadeira
barbárie.
Mesmo os mais liberais percebem que aí a autonomia
individual e a sexualidade ultrapassaram os limites e impedem o amadurecimento
de uma personalidade livre, capaz de realizar-se pessoalmente e contribuir para
o bem comum.
Evidentemente existe um problema institucional. As
universidades não podem, em nome da autonomia da comunidade, abdicar de sua
responsabilidade educacional perante os jovens. Além disso, o problema
ultrapassa a questão educacional e adentra na esfera policial e da segurança
pública.
Mas, para o conjunto da sociedade, o problema permanece se a
festa e seus abusos não acontecem no campus, e sim nas ruas próximas, em
baladas ou mesmo nas casas dos jovens.
Esta é a etapa derradeira da crise da família atual –
incapaz em grande parte dos casos de acompanhar, com amor e sabedoria, o jovem
que inicia a sua vida adulta e começa a se tornar independente. Mas também é o
começo da crise de uma nova geração de famílias – pois estes jovens terão mais
dificuldade que seus pais para entender o amor e a responsabilidade de uma vida
a dois.
Por isso, a violência que acontece nestas festas
universitárias tem tudo a ver com as reflexões do Sínodo das Famílias.
O problema não reside na curiosidade natural dos jovens,
tentados a testar a validade da norma e os prazeres ocultos no ilícito. Nem na
falta de rigor das famílias e das escolas, pois o rigor atiça a curiosidade e
as instituições não têm força para controlar os jovens numa sociedade complexa.
A tragédia dos jovens está em encontrarem um mundo adulto
onde a vida parece não ter outro sentido que não o prazer, o consumo e a
ascensão individual – novos ídolos aos quais deverão imolar sua juventude, seu
desejo de vida plena e até sua felicidade.
O prazer da festa deixa de ser celebração da vida, para ser
uma fuga, um poço sem fundo, onde cada prazer se revela frustrante e exige mais
intensidade e emoção, até chegar à violência.
Nosso primeiro desafio é mostrar aos jovens outro modo de
viver. Demonstrar, sem moralismo ou rigidez doutrinal, com nosso testemunho,
que amor, responsabilidade, construção, felicidade e prazer não são opostos.
Pelo contrário, a felicidade e o prazer mais plenos estão ali onde existe amor,
responsabilidade e construção.
Nossos jovens precisam não só do testemunho da coerência do
Evangelho, mas (talvez até mais) do testemunho da alegria do Evangelho.
Depois, valorizar e fortalecer a vida de comunidade, entre
nós e entre nossos jovens. Para os jovens, uma comunidade firme e sadia é a
manifestação mais imediata e segura do amor de Deus. No seio de uma comunidade,
o jovem poderá errar, mas sempre terá mais chance de reencontrar o caminho.
A Igreja já considerou que a família era seu esteio. Agora
está na hora de percebermos que a Igreja é o esteio da família.
Jornal “O São Paulo”, edição 3029, de 26 de novembro a 2 de
dezembro de 2014.
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