segunda-feira, 23 de março de 2015

A contribuição insubstituível da escola católica

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Cecília Canalle Fornazieri é doutora em Educação pela USP, tem experiência no ensino universitário e na gestão de escolas públicas.

Gosto de me perguntar por que nossa Igreja construiu, ao longo de séculos, tantos colégios, creches e hospitais ao invés de construir mais templos ou mesmo algum shopping ou supermercado. O questionamento pode parecer estranho, mas não tanto nos dias de hoje...
Se Deus cria o homem é porque isso é bom. Portanto se dedicar a hospitais se torna uma possibilidade de colaborar com sua obra trabalhando para que, em primeiro lugar, ela viva. Cuidar do outro, assim, é “cuidar” da própria obra de Deus, dialogar com Ele.
Em segundo lugar, o envio de seu próprio Filho a nós indica que não basta viver. Deus deseja a consciência do que vivemos a partir de uma experiência totalmente encarnada, isto é, fundada na realidade, na vida cotidiana, na história dos homens. E sabemos que, se formos a fundo na realidade – sem precisarmos de nenhum proselitismo – O encontraremos.  A escola é o espaço privilegiado dessa verificação.
É uma aposta arriscada, feita por quem tem fé porque acredita que, conhecendo a genialidade dos fenômenos físico-químicos, a maravilha das línguas, as lutas e desejos humanos, nossos alunos acabarão por se perguntar pelo autor, pelos porquês de si e do mundo. E, nessa hora, suplicamos a Deus para que a resposta esteja bem à sua frente, encarnada nas pessoas que o rodeiam na escola, no encontro com seus mestres e amigos.
Qualquer escola séria entende que é esse o caminho que faz com seus alunos, ao longo de anos: introduzir e acompanhar o conhecimento da realidade ajudando-os a compreender a grandeza do que veem. 
Mas há algo que a escola católica possa oferecer que lhe seja identitário, único?
A genial escritora Adélia Prado, ao ser indagada sobre quais os grandes temas da escrita, declara que “o grande tema é o real, a vida cotidiana, é, exatamente, aí – não há outro lugar – que a metafísica pisca para mim.”
Então o real, a realidade, é o ponto de partida para o encontro com Cristo e a escola é o lugar privilegiado do encontro entre a realidade e a consciência do homem porque, incrivelmente, não basta a “exagerada” genialidade do universo que se oferece a nós a cada segundo para que isso sequer seja percebido como algo interessante por nós! Aliás, muitas vezes, na escola, o que vemos é, justamente, o contrário: o estudo da realidade é tão descolado da contemplação do mundo e das próprias buscas dos alunos que o mundo do conhecimento passa a ser um peso do qual eles buscam se livrar e não mais um presente.
Mas qual a diferença entre uma escola confessional ou não confessional? A grande diferença reside no fato de que uma escola como a católica apresenta uma hipótese de sentido total da realidade que é ofertada por sua tradição revelada no encontro com as autoridades que a portam. Entendendo, aqui, autoridade em seu sentido original: auctoritas a partir do verbo augere: aumentar, portanto, aquele que faz o outro crescer.
O encontro com esses que fizeram e fazem um constante caminho de verificação da hipótese de significado da vida é a grande contribuição da escola católica e seu grande diferencial: ser uma companhia que ajuda as crianças e os jovens a se perguntarem sobre o sentido de cada coisa. Esses jovens, vendo como os adultos se relacionam com a realidade e como reconhecem seu Criador, podem mais facilmente fazer seu próprio caminho de verificação.
Jornal “O São Paulo”, edição 3037, de 4 a 10 de fevereiro de 2015. 

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A educação escolar e a necessária contribuição da Igreja Católica

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