Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Cecília Canalle Fornazieri é doutora em Educação pela USP, tem experiência no ensino universitário e na gestão de escolas públicas.
Gosto de me perguntar por que nossa Igreja construiu, ao
longo de séculos, tantos colégios, creches e hospitais ao invés de construir
mais templos ou mesmo algum shopping ou supermercado. O questionamento pode
parecer estranho, mas não tanto nos dias de hoje...
Se Deus cria o homem é porque isso é bom. Portanto se
dedicar a hospitais se torna uma possibilidade de colaborar com sua obra
trabalhando para que, em primeiro lugar, ela viva. Cuidar do outro, assim, é
“cuidar” da própria obra de Deus, dialogar com Ele.
Em segundo lugar, o envio de seu próprio Filho a nós indica
que não basta viver. Deus deseja a consciência do que vivemos a partir de uma
experiência totalmente encarnada, isto é, fundada na realidade, na vida
cotidiana, na história dos homens. E sabemos que, se formos a fundo na
realidade – sem precisarmos de nenhum proselitismo – O encontraremos. A escola é o espaço privilegiado dessa
verificação.
É uma aposta arriscada, feita por quem tem fé porque
acredita que, conhecendo a genialidade dos fenômenos físico-químicos, a
maravilha das línguas, as lutas e desejos humanos, nossos alunos acabarão por
se perguntar pelo autor, pelos porquês de si e do mundo. E, nessa hora,
suplicamos a Deus para que a resposta esteja bem à sua frente, encarnada nas
pessoas que o rodeiam na escola, no encontro com seus mestres e amigos.
Qualquer escola séria entende que é esse o caminho que faz
com seus alunos, ao longo de anos: introduzir e acompanhar o conhecimento da
realidade ajudando-os a compreender a grandeza do que veem.
Mas há algo que a escola católica possa oferecer que lhe seja
identitário, único?
A genial escritora Adélia Prado, ao ser indagada sobre quais
os grandes temas da escrita, declara que “o
grande tema é o real, a vida cotidiana, é, exatamente, aí – não há outro lugar
– que a metafísica pisca para mim.”
Então o real, a realidade, é o ponto de partida para o
encontro com Cristo e a escola é o lugar privilegiado do encontro entre a realidade
e a consciência do homem porque, incrivelmente, não basta a “exagerada”
genialidade do universo que se oferece a nós a cada segundo para que isso sequer
seja percebido como algo interessante por nós! Aliás, muitas vezes, na escola,
o que vemos é, justamente, o contrário: o estudo da realidade é tão descolado
da contemplação do mundo e das próprias buscas dos alunos que o mundo do conhecimento
passa a ser um peso do qual eles buscam se livrar e não mais um presente.
Mas qual a diferença entre uma escola confessional ou não confessional?
A grande diferença reside no fato de que uma escola como a católica apresenta
uma hipótese de sentido total da realidade que é ofertada por sua tradição
revelada no encontro com as autoridades que a portam. Entendendo, aqui,
autoridade em seu sentido original: auctoritas
a partir do verbo augere: aumentar,
portanto, aquele que faz o outro crescer.
O encontro com esses que fizeram e fazem um constante
caminho de verificação da hipótese de significado da vida é a grande
contribuição da escola católica e seu grande diferencial: ser uma companhia que
ajuda as crianças e os jovens a se perguntarem sobre o sentido de cada coisa.
Esses jovens, vendo como os adultos se relacionam com a realidade e como reconhecem
seu Criador, podem mais facilmente fazer seu próprio caminho de verificação.
Jornal “O São Paulo”, edição 3037, de 4 a 10 de fevereiro de
2015.
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A educação escolar e a necessária contribuição da Igreja Católica
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