Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo,
coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
As eleições de 2014 acontecem num momento em que o processo
de desenvolvimento recente do Brasil está sendo posto em cheque, tanto no plano
econômico quanto no social. Desde as manifestações de 2013, analistas e
políticos procuram entender as causas e as respostas para a insatisfação
popular. Ao mesmo tempo, estamos diante de uma redução da atividade econômica
que põe em risco não só os lucros das empreses e corporações, mas o bem-estar
futuro de toda a população.
Na perspectiva da Doutrina Social da Igreja, o grande
problema é que nos falta um verdadeiro desenvolvimento humano integral, que
atenda a todas as pessoas, em todas as suas dimensões. Mesmo do ponto de vista
puramente econômico, temos um desenvolvimento que não acontece de forma
integral, mas que se dá em apenas alguns setores e dimensões da vida econômica.
Nosso inegável desenvolvimento econômico baseou-se principalmente no
crescimento da produção e exportação de bens primários (produtos agrícolas,
minérios, etc.), sem os investimentos necessários para o aumento da eficiência
da produção industrial e agrícola. Agora, enfrenta uma série de gargalos,
determinados pela falta de uma educação que capacite adequadamente a mão de
obra e de investimentos básicos na infraestrutura.
No plano social, vemos uma melhoria recente principalmente
na renda da população pobre. Mas salta aos olhos as dificuldades relativas à
educação, moradia, saúde e segurança. Também aqui o desenvolvimento, apesar de
real, não é integral, no sentido de atingir a todos e em todas as suas
dimensões.
Essa falta de desenvolvimento integral da pessoa se reflete
diretamente no plano político. A corrupção e o populismo são reflexos dessa
situação. Quanto mais uma população se desenvolve integralmente, mais amadurece
no plano político e cultural, menos se deixa enganar por políticos corruptos,
mais participa da vida política.
O processo de desenvolvimento brasileiro nos últimos 20 anos
não teve a necessária universalidade e integralidade porque se supunha que o
desenvolvimento institucional e socioeconômico gradativamente incluiria os mais
pobres (o que é verdade, mas acontece muito lentamente) ou se acreditou que os
esforços para o aumento do poder aquisitivo da população pobre tornariam
secundária uma política global eficiente de efetivação da cidadania. Agora,
temos que aprender a conduzir todos esses processos de forma integrada.
Qual dos candidatos tem mais condições de efetivar um
processo de desenvolvimento humano integral, recuperando o desenvolvimento
econômico com vistas ao bem comum, incentivando políticas públicas que atendam
à integralidade da pessoa?
Cada um de nós tem que responder a essa pergunta. Contudo,
podemos saber que essa integralidade não será conseguida sem gestão eficiente
do Estado com políticas sociais inclusivas, investimentos em infraestrutura,
educação de qualidade, apoio às organizações sociais que prestam real serviço
ao bem comum, manejo sustentado do meio ambiente.
Jornal “O São Paulo”, edição 3021, de 1º a 7 de outubro de
2014.
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