Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Antonio Carlos Alves dos Santos é professor titular de Economia na Faculdade da PUC-SP e conselheiro do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
As medidas com impacto sobre os direitos do trabalhador,
como alterações nas regras de acesso ao seguro-desemprego, abono salarial e
pensão por morte, não foram, como era de se esperar, aceitas pelo movimento
sindical que promete fazer tudo que estiver ao seu alcance para derrubá-las no Congresso.
Elas, no entanto, são corretas, e visam corrigir distorções bem conhecidas. Trabalhar
por um período curto de tempo, deixar o emprego e solicitar o seguro-desemprego
tornou se uma pratica comum que desvirtua totalmente o objetivo do seguro-desemprego
e implica em comprometimento de recursos que poderiam ser alocados em outras
atividades. No caso da pensão por morte é conhecido o fenômeno popularmente
conhecido como viúvas do Viagra ou o casamento no leito de morte para repassar a
um membro da família estendida o recurso que seria perdido como o falecimento
do ente querido. A proposta do governo é adequada à realidade do país e bem
mais generosa que a adotada em países do mesmo nível de renda.
Uma outra medida polêmica é a redução dos subsídios.
Argumenta-se que ela levaria à redução na criação de postos de trabalhos e ao
encarecimento de itens importantes na cesta de bens consumidos pelas classes
menos favorecidas da sociedade. Pesquisas, no entanto, demonstram que quando há
aumento na oferta do número de empregos com base em subsídios, ele ocorre a um
custo tão elevado que sairia muito mais barato repassar os recursos diretamente
aos trabalhadores. No caso de subsídios de tarifas públicas os maiores beneficiários
acabam sendo os consumidores de maior renda, que fazem maior uso destes
serviços, por possuírem um número maior de automóveis, utensílios elétricos,
etc.
A medida provisória com alteração na desoneração da folha de
pagamentos - cujo impacto na geração de empregos é no mínimo controverso - encontrou
forte oposição dos setores que dela se beneficiam e foi rejeitada pelo
presidente do Senado Renan Calheiros, obrigando o governo a enviar ao Congresso
um projeto de lei com urgência institucional. As consequências da decisão se
fizeram sentir de imediato e em nada ajudam no processo de recuperação da credibilidade
do país junto às agências de risco. Com esta decisão temerária, ele atrasa o início
da reversão da desoneração da folha e poderá até mesmo comprometer todo o
esforço fiscal proposto pelo Ministro Levy. Não podemos esquecer que o sucesso
do ajuste fiscal é fundamental para que o país mantenha o “chamado grau de
investimento” das agências de classificação de risco.
É preciso tomar cuidado para que o ajuste fiscal não coloque
em risco os programas sociais que atendem os mais pobres, como o Brasil Sem Miséria
e o Bolsa Família. Seria um grande equívoco reduzir a alocação de recursos para
estes e outros programas que obtiveram grande sucesso na redução da pobreza
absoluta. Eles serão ainda mais importantes ao longo deste processo doloroso de
colocar a casa em ordem. Os pobres e os mais necessitados não podem arcar com
os custos do ajuste e serem rebaixados para o mesmo nível em que se encontravam
em 2010.
Jornal “O São Paulo”, edição 3042, de 11 a 17 de março de
2015.
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