quinta-feira, 16 de março de 2017

Campanha da Fraternidade 2017 - Opção pelos pobres e questão socioambiental

A Doutrina Social da Igreja na defesa dos biomas brasileiros

IV



Veja no final do texto as leituras sugeridas para aprofundamento

A opção preferencial pelos pobres “está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza” (Bento XVI, Discurso inaugural da Conferência de Aparecida). Um cristianismo que não esteja comprometido de alguma forma com os mais pobres trai a si próprio.
O enfrentamento da pobreza enquanto injustiça social, contudo, depende da conjuntura histórica e de concepções políticas. Por isso, na mesma Igreja de Cristo podem conviver formas diferentes de solidariedade com os pobres. Essa diversidade, que deveria ser para todos uma riqueza e um convite à conversão, frequentemente se torna escândalo e motivo de divisão. Por isso o tema exige sempre um bom aprofundamento teológico e discernimento nas questões ideológicas.
Já Bento XVI, antes de Francisco, havia observado a estreita relação entre os pobres e o meio ambiente: “O tema do desenvolvimento aparece, hoje, estreitamente associado também com os deveres que nascem do relacionamento do homem com o ambiente natural [...] constituindo o seu uso uma responsabilidade que temos para com os pobres, as gerações futuras e a humanidade inteira” (Caritas in veritate, CV 48).
Existe uma “comunhão de destinos” entre o ser humano e os ecossistemas que habita. O destino das populações indígenas depende da floresta onde vivem, a escassez dos cardumes deixará os pescadores na miséria, o empobrecimento dos solos afetará o modo de vida dos agricultores...
Nós também, nas cidades, compartilhamos o destino de nossos ecossistemas. A injusta desigualdade que gera a pobreza está refletida no contraste entre nossos bairros ricos e nossas favelas. Nossas casas muradas e nossos condomínios fechados retratam a solidão e o individualismo de nosso coração.
A doutrina social da Igreja, na Laudato si’ (LS 63, 143-146), dá um grande passo na questão ambiental quando valoriza, na defesa do meio ambiente, o patrimônio cultural das populações pobres e tradicionais (pescadores, sertanejos, índios, etc.). A comunidade científica reconhece que o saber popular é uma grande fonte de conhecimento para a compreensão e conservação dos ecossistemas. Existe até um ramo da ciência, a etnoecologia, voltado a esse estudo.
Nas florestas, nos campos ou na cidade, o melhor caminho para conservar os biomas passa por escutar e solidarizar-se com os mais pobres, considerando sua experiência de vida e sua sabedoria.


Leituras sugeridas do Magistério:
·         BENTO XVI. Carta Encíclica Caritas in veritate sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade. Roma, 29 de junho de 2009. Disponível aqui. Nº 48.
·         CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instrução Libertatis Conscientia sobre a Liberdade Cristã e a Libertação. Roma, 22 de março de 1986. Disponível aqui. Trabalha a questão da opção pelos pobres e da Teologia da Libertarão recuperando sua ligação com o Magistério da Igreja.
·         FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum, Roma, 24 de maio de 2015. Disponível aqui. O tema da opção pelos pobres é transversal na encíclica, mas pode ser visto com clareza nos parágrafos 10, 13, 20, 43-52, 66, 93-95, 139, 158, 189-197, 241, 243.
·         JOÃO PAULO II. Carta apostólica Novo millennio ineunte no termo do Grande Jubileu do Ano 2000. Roma, 6 de janeiro de 2001, nº 50-51. Disponível aqui. Traz, em sequência, os temas da pobreza e do meio ambiente como desafios à caridade cristã no início desse novo milênio.

Outras leituras sugeridas:
·         ABREU, I. Ambiente e Pobreza. Naturlink. Disponível aqui. Uma discussão geral sobre as interações entre pobreza e questão ambiental.
·         CUNHA, M.C. & ALMEIDA, M.W.B. Quem são as populações tradicionais? Unidades de Conservação no Brasil – ISA. Disponível aqui. Explica o papel das populações tradicionais na conservação dois recursos naturais.
·         DIEGUES, A.C.S. Conhecimento e Manejo Tradicionais; Ciência e Biodiversidade. NUPAUB. Disponível aqui. Uma visão geral sobre a relação entre os saberes tradicionais e a conservação da biodiversidade.
·         HARARI, I. & CRISTI, A. Pobres são os mais atingidos pela poluição urbana, diz médico da USP. Revista Carta Maior, 02/ago/2012. Disponível aqui. Mostra a relação entre poluição e pobreza para a saúde da população das grandes cidades.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal “O São Paulo”, edição 3142, 15 a 21 de março de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário