Elizabeth Kipman Cerqueira, médica
ginecologista-obstétrica, especialista em Logoterapia, coordenadora do
Departamento de Bioética do Hospital São Francisco, em Jacareí/SP.
Em abril de 2012, no Journal of Medical Ethics
foi publicado o artigo After-birth
abortion: why should the baby live?, de autoria dos professores universitários, Alberto
Giubilini e Francesca Minerva (http://jme.bmj.com/content/early/2012/03/01/medethics-2011-100411.full). No Resumo afirmam: “[...]
o que chamamos de aborto após o
nascimento (matar um recém-nascido) deve ser permitido em todos os casos em que
o aborto é permitido, incluindo
os casos em que o recém-nascido não é deficiente”. Os autores advogam o
direito dos pais, sobretudo da mãe, de matar o recém-nascido se não desejarem
tê-lo consigo e que isso seria preferível a entregá-lo para adoção. Não
levantam nem mesmo a hipótese de crianças que apresentem alguma deficiência
serem mantidas vivas.
Mas, por que as crianças portadoras de deficiência ou com
previsão de curto tempo de sobrevivência deveriam nascer? Viktor Frankl afirma
que a vida sempre tem sentido porque a pessoa sempre pode realizar valores, e os
distribui em três grupos. Criativos: correspondem à capacidade de
trabalho e de ação; Vivenciais: se realizam na capacidade de desfrutar,
viver, encontrar-se, amar; de Atitude: capacidade de suportar o
sofrimento inevitável e de, pela atitude assumida, realizar o sentido escondido
inclusive na dor.
Pode-se argumentar que os pais teriam a oportunidade de atitude
heroica ao amar o filho deficiente até sua morte natural realizando valores do terceiro
grupo, mas teria sentido a própria vida da criança se ela não poderia realizar
nenhum valor e nem teria consciência de realizá-lo? Sim, cada criança, novidade
absoluta, traz um sentido único que só ela pode realizar; traz uma vocação, não
importa que viva entre nós uma hora ou 100 anos. Por isso, a primeira e mais
excelsa das vocações é o próprio chamado à vida: ela pode desfrutar o amor, experimentar
o encontro, a acolhida de uma maneira única, intransferível a qualquer outra
pessoa e, assim, pode ensinar os pais a amar
não para si, para realizar seus próprios sonhos, mas de forma plenamente
humana e transcendente.
Não importa quanto a cultura do sistema financeiro considere
inútil aquela vida. A Bioética Personalista ao centrar sua atenção no agente
que realiza ação e naquele que a recebe, privilegia o conhecimento do verdadeiro
e propriamente humano capaz de ultrapassar toda exterioridade, como ser único
na natureza que se revela a partir de sua interioridade, em direção ao interior
de outro ser humano, sem preconceito algum.
Justamente, numa sociedade que promove campanhas de doações,
que apregoa a pluralidade, a inserção de todos, onde está o acerto e o erro?
Como se identifica o Bem? Se impossível a partir de conceitos abstratos, que o
seja pelas consequências. Ao desprezar o intocável mistério existente em todo
ser humano, independente de sua aparente normalidade ou de seu estágio de
desenvolvimento, corre-se o risco de se considerar perfeitamente ético matar crianças como se defende no
artigo citado no início.
A Bioética Personalista afirma, portanto, toda dor física
deve ser aliviada, e que o alívio da dor psicológica e existencial é aliviada
quando a todo sofrimento inevitável, se dá a oportunidade de descoberta de
sentido.
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