Ilustração: Sergio Ricciuto Conte |
Francisco Catão, teólogo com doutorado pela Universidade de Estrasburgo (França), foi professor no Instituto Pio XI e na Faculdade São Bento, autor de vários livros, tais como "O que é a Teologia da Libertação", "Em busca do sentido da vida" e "Espiritualidade cristã".
Pela primeira vez na história, a arquidiocese paulistana
convoca um sínodo, no sentido canônico do termo. São Paulo assume assim uma
posição pioneira. No momento em que o papa Francisco suscita, em toda a Igreja,
um processo de sinodalidade, para enfrentar os grandes desafios de uma efetiva
renovação, baseada nas propostas do Vaticano II, o Arcebispo de São Paulo nos
convida a rever, comunitariamente, a prática evangelizadora de nossa arquidiocese.
No Brasil, a Conferência Episcopal acaba de publicar um itinerário para formar discípulos missionários, estabelecendo o roteiro da
Iniciação à vida cristã (CNBB,
Doc.107).
O episcopado brasileiro entende a iniciação cristã, “o catecumenato, como uma dinâmica, uma
pedagogia, uma mística, que nos convida a entrar sempre mais no mistério do
amor de Deus, um itinerário pedagógico que nunca acaba” (Doc. 107,56).
Sublinha, em particular, a importância da evangelização que
lhe está na base, pois o anúncio de Jesus, o querigma, deve ser o ponto de
partida de uma “progressiva introdução no
mistério de Cristo, uma mistagogia, vivida na experiência comunitária” (Doc.107,60). Mistagogia que “nunca acaba” e que vale, portanto, não
apenas para os novos membros da Igreja, mas para todos nós, que precisamos sempre
nos alimentar do Evangelho, para sermos de fato cristãos no nosso modo de viver,
edificando a Igreja.
Para ser cristão não basta ser membro da Igreja, saber o
catecismo, praticar os mandamentos da Lei e receber os sacramentos de qualquer
modo. Ser verdadeiramente cristão é agir
como cristão em todos os momentos da vida pessoal e social, isto é, viver
no Amor: cultivar a proximidade com Jesus no íntimo de nós mesmos e, em
consequência, em todos os nossos relacionamentos pessoais e como cidadãos, agir
como irmãos, na alegria do Evangelho e na liberdade.
As leis e as instituições são necessárias, mas a vida das
sociedades, a começar pela Igreja, depende principalmente do espírito que anima
as pessoas. Sendo que, na Igreja, Corpo de Cristo, esse espírito é o Espírito
de Jesus, Espírito de Deus que em Jesus se manifestou, foi vivido e vive no
Ressuscitado.
Eis porque não se pode reduzir a iniciação cristã à cultura
religiosa ou até à teologia, nem à ação social ou política, por importante que
sejam o saber e a vida humana, como o mostrou em profundidade Jesus, tendo
vivido, como homem, em função do Reino de Deus, recomendando-nos que o
buscássemos sempre em primeiro lugar, como fonte de sentido para toda nossa vida.
O Concílio Vaticano II, no seu projeto de renovação da
Igreja, despertou-nos para a importância da evangelização, lembrando que ser
cristão é agir, sempre e em todo lugar, segundo o Espírito de Jesus apoiando-nos
uns aos outros, sendo Igreja, e abraçando a causa do Evangelho, a plena
realização de todos os homens e mulheres como pessoas, na realidade de suas
esperanças e de suas alegrias.
Que o Sínodo Arquidiocesano, de que somos todos chamados a
participar, cada um na medida de sua própria responsabilidade como cristão,
seja um momento de autêntica evangelização de nós mesmos, renovando-nos na
alegria e na liberdade do Espírito.
Jornal "O São Paulo", edição 3174, 8 a 14 de
novembro de 2017.
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