terça-feira, 28 de novembro de 2017

Afinal, o que as pessoas desejam no final da vida?

Leo Pessini

A revista The Economist, em abril de 2017, em parceria com a Foundation The Henry J. Kaiser Family, publicou um interessante estudo intitulado: “Visões e experiências com cuidados médicos de final de vida no Japão, Itália, Estados Unidos e Brasil”. Destacaremos alguns dados que nos parecem essenciais, elegendo cinco questões que nos pareceram as mais emblemáticas:
Em se tratando de assistência e cuidados, o que você considera mais importante no final de sua própria vida?”  As respostas foram: a) prolongar a vida o maior tempo possível: Japão, 9%; EUA,19%; Itália, 13%, Brasil, 50%; b) auxiliar as pessoas a morrerem sem dor: Japão, 82%; EUA, 71%; Itália, 68% e Brasil 42%. Dado marcante observado no Brasil, foi que 50% dos entrevistados defendeu o prolongamento da vida pelo tempo o mais prolongado possível.  “Ao pensar em sua própria morte, o que considera ser de extrema importância?”
 As escolhas foram: a) não deixar a família em dificuldades financeiras: 59% no Japão e 54% nos EUA; b) estar em paz espiritualmente, 40% no Brasil; e c) ter a companhia de pessoas queridas por ocasião do processo de morrer, 34% na Itália. Aqui, merece destaque a afirmação “estar em paz espiritualmente”, atribuído a grande maioria dos brasileiros entrevistados.
“Sobre o prolongamento da vida no maior tempo possível”. Segundo dados da pesquisa, 50% dos brasileiros, quando estimulados a opinar sobre o final de suas próprias vidas, manifestou de maneira enfática o desejo de permanecer internado em UTI, enquanto nos EUA, na Itália e no Japão, as taxas foram inferiores, entre 9% e 19%, prevalecendo a escolha por cuidados paliativos e uma morte sem dor e sofrimento.
Cabe informar que diante dessa diferença os dados colhidos com entrevistados brasileiros consideraram os diferentes níveis de escolaridade: 51% daqueles com educação elementar manifestou-se favoravelmente ao prolongamento da vida e permanência na UTI, enquanto 53% dos portadores de nível secundário teve a mesma opinião e apenas 35% dos portadores de nível de ensino superior acolheu a tese do prolongamento indiscriminado da vida biológica.
4. “Morrer com menos dor, desconforto e sofrimento”
Considerando conjuntamente todos demais países estudados, a aprovação da medida foi acolhida por 41% das pessoas com educação elementar; 40% daquelas com ensino secundário e 58% das portadoras de formação universitária.  Em síntese, ao se tratar de doenças graves e incuráveis a maioria dos entrevistados, tanto no Japão, quanto na Itália e nos EUA, optou por receber cuidados que reduzissem a dor e que permitissem a companhia de familiares nos momentos próximos ao final da vida, em detrimento de procedimentos que proporcionassem o prolongamento artificial da vida.
Sobre quem deveria decidir sobre o tratamento médico a ser adotado em pacientes no final da vida”
Na média geral dos países, 57% considerou ser esta uma decisão de competência exclusiva dos pacientes e seus familiares, enquanto 40% optou pelas condutas definidas pelos médicos, e 2 % não soube responder. Destacamos a prevalência marcante da religiosidade entre os brasileiros, condição expressa no índice de 40% dos que consideraram “extremamente importante”, nesse momento da finitude da vida, “estar em paz espiritualmente”. Oito em cada dez brasileiros participantes da pesquisa (83%) evidenciou a importância que devotam às “convicções religiosas e espirituais”. 
Fica o gentil convite de a gente refletir sobre uma das questões mais importantes de nossas vidas. Como fomos cuidados para nascer, também necessitamos de cuidados ao partir! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário