Francisco Catão
A Exortação Apostólica Alegria
do Evangelho (24.11.2013), que
promulga o Sínodo sobre a Nova Evangelização (2012), tem grande importância
porque traça as linhas diretoras do pontificado do papa Francisco, que então se
iniciava, numa perspectiva de reforma da Igreja esboçada pelo Vaticano II e que
se tem efetivado na Igreja, nesses últimos cinco anos.
Primeiro grande documento do papa Francisco, a Alegria do Evangelho comporta cinco
capítulos que certamente serão levados em consideração pelo Sínodo
Arquidiocesano, em processo em São Paulo.
Começa estabelecendo o objetivo: a transformação missionária da Igreja, no caso do Sínodo, a igreja
em São Paulo. Examina seguida a crise que
atravessamos nos dias de hoje, do ponto de vista da fé e aponta o caminho
de superação, que é o anúncio do
Evangelho, fundado na fé e se estendendo a toda sociedade, mesmo
secularizada. Conclui finalmente, que a transformação missionária da Igreja no
mundo, como em São Paulo, é obra do Espírito e requer evangelizadores com Espírito.
Para perceber todo alcance do ensinamento oficial, o caminho
mais fácil é assimilar em profundidade os fundamentos do capítulo sobre o anúncio do Evangelho:
Todo o povo de Deus anuncia o Evangelho. A salvação, que Deus nos
oferece é obra da sua misericórdia. Esta salvação é para todos, pois Jesus não
diz aos Apóstolos para formarem um grupo de elite, mas: «Ide, pois, fazei discípulos
de todos os povos» (Mt 28, 19)
Ao longo destes dois milénios de cristianismo, uma quantidade
inumerável de povos recebeu a graça da fé, e fê-la florir na sua vida diária,
transmitindo-a segundo as próprias modalidades culturais. Bem entendida, a
diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja: o Espírito Santo, enviado
pelo Pai e o Filho, transforma os nossos corações e nos torna capazes de entrar
na comunhão perfeita da Santíssima Trindade, onde tudo encontra a sua unidade.
Todos somos discípulos missionários. Cada cristão é missionário na
medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus. Seu coração sabe
que a vida não é a mesma coisa sem Ele, pois crer, que descobriu como cristão,
é o que o ajuda a viver e lhe dá esperança, e é isso que deve comunicar aos
outros (Alegria do Evang., 111-121)
Na base, pois, de uma Igreja “em saída”, missionária, voltada, como
Jesus para a salvação de todo o povo, está a experiência pessoal de Deus de
todo cristão, no conjunto da Igreja.
A ação evangelizadora é fruto da experiência de Deus no
Espírito de Jesus, alma do exercício de todos os dons hierárquicos e
carismáticos, conferidos pelo Espírito à Igreja, que, por sua vez, inculturada,
é princípio instrumental de graça,
com absoluto primado sobre todas as capacidades humanas ou funções exercidas
por ministros, ordenados ou não, no seio da comunidade cristã.
Essa visão atualizada do Mistério representa sem dúvida, uma
profunda “mudança de forma da Igreja”, uma “reforma”, como se observa nas várias
medidas que vêm sendo adotadas pelo papa Francisco.
Os caminhos para a realização dessa “reforma” no conjunto
das instituições eclesiais de S. Paulo, estão sendo estudados pelo Sínodo
Arquidiocesano.
Chama-nos atenção sua novidade, apontada pelo Espírito no
documento pontifício de 2014, que o Sínodo certamente levará em consideração, para
que nos tornemos uma Igreja “em saída”, missionária, voltada, como Jesus para a salvação de todo o povo.
Jornal "O São Paulo",
edição 3184, 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 2018.
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